Cotidiano

Ciência começa a entender a variante P.1. E se assusta com o que descobriu

Um estudo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia constatou que a carga viral de pacientes contaminados pela cepa P.1 do novo coronavírus (SARS-CoV-2), uma variante provavelmente desenvolvida no Amazonas, é pode ser dez vezes maior do que em pacientes com outras variantes.

De acordo com o estudo, a pessoa infectada com a P.1 pode ter até dez vezes mais vírus em seu organismo do que as contaminadas por outras variantes. Tudo leva a crer ser esse o motivo dessa variante a se espalhar tão rápido pelo Amazonas e causar o novo colapso da saúde no estado em janeiro.

A carga viral de P.1 não varia entre homens idosos e adultos de outras idades. Também não houve diferença na carga viral de homens e mulheres, por isso ela pode ser igualmente transmissível por qualquer pessoa acima de 18 anos. E isso é diferente do que acontece com as outras cepas, em que os homens idosos têm uma carga viral mais alta.

Segundo o pesquisador Felipe Naveca, o aumento da quantidade de vírus no nariz e na garganta amplia a possibilidade de transmissão. Ele explica, porém, que uma maior carga viral não necessariamente piora a situação da Covid-19 no paciente. No entanto, o governo do Amazonas constatou aumento de internações entre pessoas mais jovens nos últimos meses.

Evolução da cepa

A P.1 teria evoluído de uma outra cepa que circulava pelo Amazonas – a chamada B.1.1.28 – em novembro de 2020 e foi detectada pela primeira vez em Manaus em 4 de dezembro. Foi necessário um tempo inferior a dois meses para que a nova variante passasse a ser a causadora da maior parte dos casos de covid-19. “O problema do vírus ficar circulando muito tempo, quando houve também uma queda do distanciamento social, favoreceu o surgimento da P.1”, explicou Naveca.

“O que intriga ainda muitos pesquisadores é o enorme salto evolutivo que aconteceu nas Variantes de Preocupação (em inglês, Variants Of Concern – VOC’s). O acúmulo de mutações é constante ao longo do tempo para as variantes encontradas no Amazonas até o surgimento da P.1, que com suas 21 mutações definidoras destoa das outras. Ao comparar as duas precisamos lembrar que B.1.195 (uma das primeiras a chegar ao estado) se espalhou por uma população nunca exposta ao SARS-CoV-2. Já P.1 foi tão ou mais eficaz, mesmo com algum nível de imunidade da população”, explicou o epidemiologista Tiago Gräf, um dos participantes do estudo em sua conta no Twitter.

Quanto mais o vírus circula, maiores são as chances de ele sofrer novas mutações que podem ser, inclusive, resistentes às vacinas produzidas atualmente. Para Naveca, estudos ainda estão sendo feitos sobre a eficácia da vacina contra a variante P.1, mas ainda não há conclusão.

“Nosso plano nacional de não combate à Covid gerou um monstro. A variante P.1 mais transmissível, que infecta quem já teve Covid e parece causar casos mais graves. São mais pessoas precisando de internação, por mais tempo do que em 2020”, alertou o biólogo Átila Iamarino, também em sua conta no Twitter.

O artigo que divulga os dados da pesquisa, realizada entre março de 2020 e janeiro deste ano, foi assinado por 29 especialistas, mas ainda falta ser oficialmente publicado.

Com informações da Agência Brasil

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