Após um breve período de chuvas que aliviou a sensação de calor e da fumaça, Manaus voltou a registrar péssimos índices de qualidade do ar nos últimos dias. Embora as autoridades afirmem que a origem desse problema é no Pará, as queimadas na região metropolitana da capital continuam acontecendo. E uma denúncia que chegou ao Vocativo é mais um indício que parte dessa ação é, de fato, criminosa.
Um dos incêndios registrados nesta sexta-feira (03/11/2023) aconteceu nos arredores da comunidade Portelinha Serra Baixa, localizada no quilômetro 29 da rodovia AM-070, em Iranduba (a 27 km de Manaus), que integra a Região Metropolitana da Capital. As queimadas na região desse município, além de Autazes e na área de influência da BR-319 foram as principais fontes da fumaça que encobrem a capital do estado desde setembro. A região da Portelinha inclusive possui histórico de conflitos de terra.
“É estranho, esse ano estão tacando fogo em tudo quanto é lugar. Então, tem alguma outra ação por trás disso. Alguém está querendo o caos”
Wilson Spironello, ecologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA)
Um dos proprietários de um sítio na região, o pesquisador Wilson Spironello, ecologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), procurou o site para denunciar mais um incêndio no local. “Pela primeira vez estou vendo fogo em floresta de Igapó. Aqui na nossa frente. E já avisei os bombeiros, mas eles não falam nada. Dizem que tem muitas chamadas”, lamentou o pesquisador, que fez um alerta. “O fogo tá indo, tá aumentando. E ele está na floresta de Igapó, mas se continuar, vai subir e pode chegar até na das matas, em terra firme. Daí que a coisa piora”, avisa Wilson.
As áreas de Igapó são importantes para a preservação de espécies em risco de extinção. Os moradores da região afirmam que sempre alertam os bombeiros para este problema, mas a presença deles no local tem sido baixa. “A gente avisa, mas até agora nada dos bombeiros. Não sei mais a quem chamar”, desabafa Spironello.
O ecologista relata ainda que morando há anos no local, não tinha presenciado ainda incêndios com tanta frequência. “Olha, eu nunca vi ninguém aqui tacar fogo em em floresta de igapó. Então não sei. É estranho, esse ano estão tacando fogo em tudo quanto é lugar. Então, tem alguma outra ação por trás disso. Alguém está querendo o caos, Porque não é possível”, lamenta o pesquisador.
“É um tipo de vegetação que não se incendeia naturalmente, logo, não são incêndios naturais”
Lucas Ferrante, mestre em Biologia (Ecologia) também pelo INPA
Características criminosas
Um ponto que chama atenção nesse caso é a característica da mata onde está ocorrendo esses incêndios. A mata de Igapó é úmida mesmo no período seco. “É um tipo de vegetação que não se incendeia naturalmente, logo, não são incêndios naturais”, explica Lucas Ferrante, doutor em Biologia (Ecologia) e pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (UFAM.
Segundo Ferrante, as consequências desse tipo de problema são muitas Amazônia como um todo. “Um trecho que é vitimado por um incêndio tem uma regeneração muito mais baixa, também se tornando mais suscetível a outros incêndios. Essa vegetação acaba não se recompondo adequadamente. Em um cenário de mudanças climáticas extremas, como o que vivemos, vamos observando o que chamamos de savanização do bioma, o que também já tem afetado as matas de igapó”, alerta.
Bombeiros foram para outro local
Em nota enviada ao Vocativo, o Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) afirmou que combateu, ao longo da tarde desta sexta-feira (03/11), um incêndio em área de mata fechada em outro local, o Ramal do Laguinho, em Iranduba.
Segundo os bombeiros, ao chegarem no local, perceberam a área com os focos de incêndio era de difícil acesso, não sendo possível entrar com viatura. “As chamas foram controladas em uma área de, aproximadamente, 5 mil metros quadrados. Após o trabalho rápido e preciso de combate ao incêndio, os bombeiros fizeram vistoria na área e repassaram orientações para moradores locais”, explicou a corporação.
Líder comunitária assassinada
A região tem histórico de ação criminosa por questões de grilagem. Em 2015, a líder da comunidade Portelinha, Maria das Dores Salvador Priante, 54, foi sequestrada, torturada e assassinada em um conflito de terras na região. Priante registrou mais de 20 boletins de ocorrência contra seus assassinos antes de ser morta e não teve qualquer proteção da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas na época. Somente três meses depois da sua morte as investigações avançaram.
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