Amazônia Covid-19

Campanha de vacinação em Manaus precisa mudar, alertam especialistas

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) divulgados neste domingo (05/09/21), cerca de 309 mil pessoas vacináveis (que estão nos grupos já contemplados pela vacina) ainda não receberam qualquer dose de imunizantes contra a Covid-19 em Manaus. E como apenas 26% da população total da cidade está com esquema vacinal completo na capital, o controle da pandemia se torna mais difícil. Pensando nisso, o Vocativo ouviu especialistas no assunto, que alertaram: a estratégia de vacinação na capital precisa mudar.

Atualmente, a campanha de vacinação em Manaus conta com duas armas: a plataforma Imuniza Manaus, disponibilizada pela Semsa para que a população se dirija até os postos de saúde, além dos mutirões organizados pelo governo do Amazonas. O último, realizado entre os dias 28 e 29 de setembro, tinha como objetivo acelerar as segundas doses da população vacinada no dia 13 de junho deste ano. Mas, o resultado ficou abaixo do esperado.

Segundo dados da prefeitura, dos 140 mil vacinados em junho, apenas 85 mil retornaram para o mutirão das segundas doses. Em números totais, a campanha pelo complemento da imunização acrescentou apenas 3% de totalmente imunizados na população do município.

“O primeiro ponto a ser destacado é que a estratégia de mutirão remete a fracasso no curso natural da campanha de vacinação. Ou seja, você não consegue a adesão da população em um primeiro momento e depois usa o recurso do mutirão para tentar superar a baixa adesão da população. Seria como ter um empréstimo, não pagar em dias e pedir novo parcelamento para tentar solucionar o problema”, compara o epidemiologista e pesquisador Jesem Orellana, da Fiocruz Amazônia.

Na opinião do pesquisador, o fato da população não se engajar na campanha de retorno é um mau sinal para a prefeitura. “Meses depois após o primeiro mutirão de junho, ter uma adesão tão baixa comprova o fracasso da campanha de vacinação, sobretudo se levarmos em conta que parte era de pessoas com esquema em atraso (em torno de 20 mil)”, alerta.

Soluções

Se as pessoas não estão indo até as vacinas, talvez a melhor estratégia seja levar as vacinas até elas. “Temos de usar qualquer arma disponível. O que for possível fazer para atrair as pessoas, dentro da questão ética, deve ser feito. É preciso ir até onde essas pessoas estão. Fazer uma busca ativa onde, por exemplo, as equipes do programa Saúde da Família são mais atuantes”, opina a também epidemiologista Isabel Leite, da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais (UFJF).

“Busca ativa de faltosos é o segredo, assim como para detecção de casos suspeitos ou novos de Covid-19. Outra estratégia seria fazer campanhas volantes em fábricas, terminais de transporte, bairros e etc. Mas, infelizmente medidas efetivas como esta nunca fizeram parte das estratégias sanitárias do município de Manaus”, lamenta Jesem.

Desinformação

Isabel Leite alerta também para a necessidade de combater a desinformação a respeito das vacinas. Vale lembrar que o processo de imunização é constantemente atacado por figuras políticas ligadas e o próprio presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), que ainda exerce influência sobre seu eleitorado na capital do Amazonas.

“Com a quantidade de fake news difundida, a quantidade de pessoas colocando em dúvida a vacina, a população se sensibiliza com isso, infelizmente. Então precisamos fazer o oposto, mostrar o quanto ela é importante e necessária”, orienta a epidemiologista.

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