Amazônia

Cada dia mais violento, trânsito em Manaus precisa melhorar sinalização, diz especialista

Susi Pedrosa Caldas (37 anos) e sua enteada, Maria Eduarda Caldas (17 anos), mortas em um trágico acidente no último dia 27 de agosto, foram duas das últimas vítimas do cada vez mais violento trânsito de Manaus. Mesmo com a redução do número de acidentes em relação a 2020, a quantidade de mortes aumentou quase 20%.

Madrasta e enteada morreram em um acidente de trânsito envolvendo cinco veículos, no último dia 27 de agosto, na avenida General Rodrigo Otávio, bairro Japiim, Zona Sul de Manaus. O carro em que as vítimas estavam foi esmagado entre dois caminhões. O motorista que causou o acidente foi preso por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Elas entraram para as estatísticas que registram 162 mortes em acidentes de trânsito de janeiro a agosto de 2021 na capital do estado. O número representa 19,6% em relação ao mesmo período de 2020, quando foram 136 vítimas, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran-AM) divulgados esta semana.

Maiores vítimas

Apesar de graves acidentes nas pistas, as maiores vítimas do trânsito em Manaus têm sido os pedestres. A maioria das mortes em 2021 foi por atropelamento, com 73 ocorrências; em segundo lugar estão as colisões de carros e motos, totalizando, até agora, 39 casos. A quantidade de vítimas lesionadas nos primeiros oito meses do ano também aumentou, de 2020 para 2021. Foram 2.770, no ano passado; e 3.018, neste ano, um aumento de 8,95%.

Outra categoria bastante afetada são os ciclistas. Ainda em agosto, o Vocativo mostrou que nos últimos sete meses, foram 4 mortes e mais de 18 incidentes de trânsito envolvendo praticantes da modalidade, número maior do que todo o ano de 2020, quando foram registradas três mortes nas mesmas circunstâncias.

Isolamento

O mais alarmante é o fato do número de acidentes ter diminuído exatamente no mesmo espaço de tempo, mesmo com o fim das restrições de circulação causadas pela pandemia da Covid-19. De janeiro a agosto de 2021 foram registrados 8.566 acidentes de trânsito em Manaus, uma redução de 1,13% em relação ao mesmo período do ano passado, quando ocorreram 8.664 acidentes.

O aumento da mobilidade urbana após o período de maior isolamento também tem impacto na percepção dos motoristas, segundo Augusto César Barreto Rocha, doutor em Engenharia de Transportes pelo Instituto pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

“Com a redução do home office e do ensino remoto e a consequente reabertura” da cidade, o trânsito volta a cada dia a ficar mais intenso. Muitas pessoas estão menos acostumadas, outras tantas mais tensas pelas dificuldades econômicas (com maior nível de stress, por perdas, doenças, crise financeira, custo de vida crescente etc.), levando a uma menor concentração com o tráfego”, avalia.

Sinalização

De acordo com Augusto Barreto, um dos principais causadores desses acidentes é a falta sinalização adequada no trânsito em Manaus. “Definitivamente precisamos de melhor sinalização. Não temos problemas com carros. O que temos são motoristas que não têm ciência sobre o futuro próximo na via por falta de sinalização. Acredito que uma melhor sinalização pudesse ter evitado aquelas mortes [de Susi e Maria Eduarda]”, opina.

No caso de ciclistas e pedestres, é preciso colocar os participantes em local adequado, além, é claro, de investir em campanhas educativas. “A cidade poderia ser mais acolhedora para ciclistas. Precisamos de mais ciclovias, ciclofaixas e um ambiente que não seja só para automóveis – que os pedestres e ciclistas possuam ampla condição de segurança. A cidade é das pessoas e não dos automóveis”, afirma.

Para o engenheiro, tanto prefeitura quanto governo do estado precisam entender que em questão de trânsito não há uma solução, mas várias delas. “São soluções que minimizam risco, mas não o eliminam. A sinalização intensa e clara é a melhor delas. Isso transfere a responsabilidade ao motorista. Falamos que um carro atingiu e não que um motorista foi irresponsável. Por que isso? É preciso sinalizar melhor a cidade”, alerta.

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