Relatório da inteligência entregue do dia 6 de janeiro já alertava para os riscos de invasão de prédios públicos no dia 8 de janeiro. O documento foi entregue no gabinete do então Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, mas não gerou desdobramentos operacionais e batalhões importantes para conter manifestantes não foram acionados.
A linha de contenção, quebrada por terroristas naquele dia, era formada majoritariamente por alunos do curso de formação de praças da PM do DF. Ao menos nove comandantes das forças de segurança estavam de férias ou de licença no momento do ataque ao Congresso, ao Palácio do Planalto e ao STF.
Relatos também apontam que ordens de comandantes que estavam em ação no dia teriam sido descumpridas e que o efetivo em campo era bem inferior ao previsto. Esses são alguns dos fatos elencados no relatório sobre a invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e das dependências do Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 8 de janeiro de 2023.
O documento foi protocolado no STF, nesta sexta-feira (27/01/2023), pelo interventor federal na segurança pública do Distrito Federal e secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Ricardo Cappelli, e será encaminhado a outros órgãos, como o Senado. Segundo Capelli, não “há coincidências”. “Quem quiser que acredite em coincidência”, disse Capelli em coletiva de imprensa.
Capelli, que assumiu como interventor no dia 8, durante o fatídico episódio, apontou ainda a “centralidade” do acampamento golpista instalado desde o final das eleições de 2022 em frente ao Quartel General do Exército em Brasília. Segundo Capelli, desde então houve uma “escalada” de atos violentos que culminaram com a invasão dos prédios dos Três Poderes.
O interventor citou ainda o vandalismo no dia da diplomação de Lula e a tentativa de explosão de uma bomba na região do Aeroporto de Brasília e afirmou que o local funcionava como uma “minicidade golpista-terrorista”.
“Virou um centro de construção de planos contra a democracia brasileira. A polícia registrou 73 ocorrências policiais no acampamento nesses poucos mais de 2 meses que ele funcionou: roubo, furto. Foi um ambiente também onde circularam criminosos, isso é confirmado pelas ocorrências policiais”, apontou. O interventor destacou que as investigações vão prosseguir e afirmou ter confiança nas corregedorias da PM e dos demais órgãos de segurança pública.
Comando e Planejamento
No dias dos ataques, Cappelli disse que nove coronéis, responsáveis por diferentes batalhões, estavam de férias. “Essa é uma outra questão que pode ter tido impacto sobre os eventos que ocorreram no dia 8”, disse.
O interventor disse ainda que o Comandante da Polícia Militar, Fábio Augusto, esteve desde o início da manhã no campo de operações e que atuou para tentar defender a linha no Congresso Nacional e depois no STF. O militar está preso desde o dia 12 de janeiro.
“Apesar das tentativas dele de mobilizar os outros batalhões, as ordens e os apelos dele não foram atendidas. O comandante esteve em campo, atuou individualmente, mas perdeu o comando e a capacidade de comando das tropas ao longo do dia 8. Fez apelos que foram ignorados e não foram atendidos”, disse.
Cappelli também abordou a sua atuação como interventor, no cargo há 19 dias. Entre os desdobramentos citados estão a exoneração de seis coronéis que estavam em posição de comando no dia 8 e abertura de seis Inquéritos Policiais Militares (IPM’s) para apurar a atuação de militares, do comando da tropa, da ação da PM no ataque ao STF, entre outras questões.
”Foi aberto um IPM específico para apurar aquele evento no STF. Ali a gente tem uma sucessão de problemas, desde um planejamento operacional inexistente que coloca um número de homens insuficiente, até a postura passiva e inaceitável diante de uma grave ameaça à República”, disse.
Segundo o interventor, também será investigada a ordem dada para que as tropas que estavam próximas ao Supremo se retirassem do local. As imagens com a saída da tropa geraram críticas na atuação dos policiais.
“O major que dá aquele comando relata que recebeu um comando para auxiliar o comandante Fábio Augusto no Congresso Nacional que tinha acabado de ser invadido. Verificamos as imagens e elas confirmam o que ele diz”, disse.
“Por que foi dada essa ordem que deixou o STF desguarnecido? O que está claro é que não houve evasão do campo. A imagem prova que ele sai dali e vai para o Congresso Nacional. Se o movimento foi correto ou não foi, o que motivou esse movimento o IPM vai apurar”, acrescentou.
Ele disse ainda que desde o momento em que foi designado interventor esteve diretamente no campo e acompanhou a retirada dos terroristas das sedes dos três poderes e que efetuou ainda algumas prisões, tendo subido até o acampamento, com a intenção de desmontá-lo. Segundo ele, o então Comandante Militar do Planalto, General Dutra, “ponderou que seria mais adequado para evitar qualquer tipo de conflito a noite, entrar na manhã do dia seguinte.”
Com informações das Agências Brasil e Senado