Com 8.590 km2 de alertas de desmatamento captados pelo sistema Deter em 2022, a Amazônia mantém a tendência de devastação das florestas verificada desde o começo do governo Bolsonaro. A novidade é que, com a expectativa de pavimentação da BR-319, o estado do Amazonas tornou-se um novo epicentro da destruição florestal.
Em 2022, o Amazonas ultrapassou Mato Grosso no ranking dos estados com mais florestas devastadas pela segunda vez desde o início da série histórica do Deter-B, em 2016. O Pará, que ficou no topo da lista, teve 3.072 km2 de alertas de desmatamento, enquanto Amazonas registrou 2.292 km2, 60% mais do que Mato Grosso, com 1.433 km2. Localizados na zona de influência da BR-319, os municípios de Lábrea e Apuí foram respectivamente o primeiro e segundo com maiores áreas de alertas de desmatamento de toda a região.
A área de alertas de desmatamento na Amazônia em julho atingiu 1.487 km², um empate técnico em relação a julho do ano passado (1.498 km2). É uma área equivalente à da cidade de São Paulo (1.500 km2) destruída num único mês.
Considerando o ano todo, a área acumulada de alertas na Amazônia em 2022 foi a terceira mais alta da série, sendo que todos os recordes se deram no regime Bolsonaro. Isso deve refletir numa taxa oficial de desmatamento acima dos 10.000 km² pelo quarto ano consecutivo. Os dados finais vêm de um outro sistema do Inpe, o Prodes, que é mais acurado que o Deter, mas cujas estimativas só são divulgadas no fim do ano.
Como no ano passado um número do Deter de 8.780 km² correspondeu a uma taxa oficial de desmatamento de 13.038 km², ainda não é possível descartar uma inédita quarta elevação seguida na destruição da Amazônia. Desde o início do monitoramento por satélite da floresta (em 1988), Jair Bolsonaro foi o único presidente a ver o desmatamento crescer por três anos seguidos de seu mandato.
“É mais um número que estarrece, mas não surpreende: o desmatamento fora de controle na Amazônia resulta de uma estratégia meticulosa e muito bem implementada de Bolsonaro e seus generais para desmontar a governança socioambiental no Brasil”, afirma Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com mais de 70 organizações integrantes.
O sistema Deter foi criado em 2004 e não serve para calcular área desmatada. Seu objetivo é o de detectar o desmate enquanto ele acontece para orientar a fiscalização do Ibama. A administração de Bolsonaro, no entanto, destruiu a fiscalização: segundo dados do MapBiomas Alerta, apenas 2,4% dos alertas de desmatamento emitidos pelos satélites corresponderam a uma ação em campo de autuação ou embargo de propriedade pelos órgãos ambientais federais de 2019 a 2021.
Não foi só a inação que levou o corte raso a sair do controle: a ação também. Durante o governo Bolsonaro, o asfaltamento da BR-319, rodovia que corta o maior bloco de florestas intactas da Amazônia, começou a avançar mais rapidamente — até a concessão da licença prévia para o trecho ambientalmente mais sensível da obra, no último dia 28, atropelando pareceres de técnicos do próprio governo.
“A divulgação dos dados do Deter um dia depois da festa cívica da leitura das cartas pela democracia nos lembra do risco que a floresta e o país correm caso Bolsonaro triunfe em seu plano de romper a ordem institucional no Brasil”, completa Astrini. “Qualquer solução para a floresta começa em outubro, nas urnas, com a derrota do mandatário que deu ao crime o controle sobre metade do território do Brasil. ”
Com informações do Observatório do Clima