Opinião

Análise: os três indiciados na CPI da Pandemia e um precedente perigoso

Mais do que a reunião de três indiciados pela CPI da Pandemia (Bolsonaro, Pazuello e Wilson Lima), Manaus viu hoje a mistura de populismo religioso com muito dinheiro para aliados políticos, o que vai ser a tática e um precedente perigoso para as eleições de 2022

O presidente Jair Bolsonaro esteve mais uma vez em Manaus nesta quarta-feira (27/10/21). Ao lado do governador Wilson Lima (PSC) e do prefeito David Almeida (Avante), o presidente participou de eventos que deram a tônica do que será a campanha eleitoral em 2022: uma mistura entre populismo religioso, aceno para forças policiais e pesadas verbas para investimento em infraestrutura em bases eleitorais como a capital do Amazonas.

A chegada

Na noite desta terça-feira (26/10/21), após a chegada da comitiva presidencial, todos estiveram reunidos para um almoço na casa do ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello, que mora em Manaus. Na ocasião, ocorreu o encontro de três indiciados pela CPI da Pandemia no Senado. Em comum aos três, acusações de responsabilidade pela tragédia ocorrida em janeiro na capital do estado.

Mais tarde, o governador Wilson Lima levou o presidente da República para o baile de formatura de 404 novos policiais militares. Os novos praças foram aprovados em concurso realizado em 2011 e o baile foi realizado na fase 1 do Centro de Convenções do Amazonas Vasco Vasques, zona centro-sul. Já nesta quarta, Bolsonaro participou da 1ª Consagração Pública de Pastores do Amazonas, onde 350 líderes religiosos receberam o título.

Abrindo o cofre

Os eventos mostram bem a tática de Bolsonaro para a campanha presidencial, que já começou informalmente: abrir o cofre, acenando sempre que possível para as forças policiais, tendência seguida por seus aliados. Vale lembrar que o governador Wilson Lima anunciou nesta terça-feira (26/10/21) benefícios como revisão de data-base, promoções, progressões e enquadramento de mais de 70 mil servidores do Estado, o que terá impacto orçamentário de meio bilhão de reais à partir de 2022. A segurança pública, que tem prometido concurso para este ano, ficou com maior fatia do bolo.

É importante lembrar que esse movimento parece ser orgânico. Segundo dados disponíveis no portal Siga Brasil, mantido pela Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado (Conorf), divulgados em junho, a União reduziu em 90,5% o valor médio das transferências a estados e municípios para o combate à pandemia em 2021, exceto para governadores considerados “aliados” de Bolsonaro. Wilson Lima, por exemplo, recebeu 56,9% dos recursos destinados ao estado. O prefeito de Manaus, David Almeida, não fica atrás. O município tem prometidos R$ 1 bilhão em verbas para investimentos.

O que esperar

Fica bastante claro que a tática de Bolsonaro será criar palanques permanentes nos estados na tentativa de melhorar sua popularidade. E conta com o apoio declarado das autoridades públicas do Amazonas, em especial do governador Wilson Lima, que nos últimos meses tem aumentado de maneira significativa os gastos da máquina pública.

O problema é a falta de transparência nessas operações. Em três anos, a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) já autorizou o empréstimo de mais de R$ 3,6 bilhões à sua gestão. Enquanto isso, o Tribunal de Contas do estado segue sem julgar os balanços da sua gestão.

Outro problema desse alinhamento tem a ver com a segurança da população e da própria estabilidade democrática do país. Primeiro que ele tenta corroer as instituições do país por dentro e sabe que precisa aumentar mais ainda sua bancada no Congresso, em especial no Senado. Para isso, ele e seus aliados no Estado não medirão esforços para se eleger. Então podemos esperar uma eleição suja, tensa e – por que não? – perigosa.

Mais do que isso: é sabido que Bolsonaro deseja um golpe de estado. Só recuou desse intuito porque as instituições reagiram à sua tentativa no 07 de setembro. Não resta dúvidas que, caso sinta a derrota próxima nas eleições, tentará novamente. O aparelhamento de forças de segurança nos estados é sempre um temor entre quem defende a democracia. Ter a máquina pública do Amazonas a seu dispor pode ser um precedente muito perigoso.

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