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Análise: Nem Marcos do Val deve saber o que está fazendo

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) causou alvoroço na política brasileira na madrugada desta quinta-feira (02/02/2023) ao anunciar sua renúncia ao mandato. O motivo seria ainda mais surpreendente: ele teria sido coagido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a apoiar um golpe de Estado na tentativa de impedir a posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). Ao longo do dia, porém, do Val mudou várias vezes de posicionamento, o que fez todos suspeitarem de que tudo não passava de armação.

Armação do golpe

Em transmissão nas redes sociais, Marcos do Val disse que participou de uma reunião com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira, que tinha como objetivo induzir o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, a ”reconhecer” que ultrapassou as quatro linhas da Constituição com o ex-presidente da República.

A missão, segundo o parlamentar, foi passada no dia 09 de dezembro pelo ex-deputado, que marcou e conduziu todo o encontro. O senador acrescentou que Silveira pediu que a reunião com Moraes fosse gravada. O áudio seria vazado de modo que parecesse legal. O parlamentar disse ainda que o presidente Jair Bolsonaro permaneceu o tempo todo calado e que ninguém mais participou da conversa.

Do Val disse que como nunca havia sido chamado para nenhum encontro com Jair Bolsonaro, procurou Moraes a quem falou sobre o convite para a reunião e pediu orientações sobre se deveria ou não ir. Na versão do parlamentar, o magistrado o aconselhou a ir ao encontro e ouvir o que o deputado e o presidente queriam.

Horas depois, tudo mudou

Já na manhã desta quinta-feira (02/02/2023) o senador desistiu de renunciar ao mandato. De acordo com do Val, a publicação sobre uma eventual renúncia se deu “em um momento de muita raiva”, após ter sido chamado de “traidor” por internautas. Na noite anterior, integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) teriam criticado Marcos do Val por supostamente apoiar o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na eleição para a Presidência do Senado.

Teses e mais teses

Após toda essa confusão, Marcos do Val diz estar investigando os ataques de 8 de janeiro nas sedes dos três Poderes e defende a criação de uma CPI para investigar os atos de vandalismo. Ele disse que tem muito a falar sobre os mandantes, mas como os dados são sigilosos, só podem ser revelados em uma comissão de inquérito. É aqui que mora a teoria mais aceita até o momento para esta trama.

Ao colocar o ministro Alexandre de Moraes nessa sequência de acontecimentos, do Val abre a possibilidade de, em caso de uma CPI, convocar o Ministro para depor em um Senado repleto de bolsonaristas prontos para atacá-lo. Isso sem contar possíveis “novas revelações” que tenham como alvo o próprio ministro e membros do atual governo.

Vale lembrar que nas redes bolsonaristas, circulam há semanas as “teses” de que os milhares de vândalos que atacaram Brasília seriam “petistas infiltrados” e que o atual governo teria ciência dos ataques e permitido que eles acontecessem para perseguir adversários políticos. Outro que seria colocado na mira das investigações seria o Ministro da Justiça, Flávio Dino.

Faz algum sentido? Esse plano tem alguma chance de prosperar? Altamente improvável. No máximo, servirá para alimentar as redes sociais bolsonaristas com mais desinformação. A esta altura, com o governo Lula consolidado e com o comando das casas legislativas nas mãos de figuras que não estão interessadas em confronto, não há cenário de golpe. Se antes quando detinham a máquina pública isso já era difícil, agora parece impossível. Mas a prudência manda monitorar essas conspirações e punir exemplarmente quem participa delas. Não é normal ex-presidentes tramando golpe de Estado.

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