O general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e atualmente assessor especial da Presidência da República, deve ser o escolhido para ser vice na chapa do atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), em sua campanha para a reeleição. A indicação contraria o desejo de aliados, em especial dos partidos do chamado Centrão, que desejavam um nome mais palatável para o eleitorado. Mas, se Bolsonaro acredita que vai ser blindado por Netto, pode ter a surpresa mais desagradável da sua vida.
Mais do que um nome controverso, se a composição se confirmar, fica estabelecido um grupo de militares no seio da política brasileira, o que pode ser extremamente perigoso para a nossa democracia. O Vocativo já falou da relação complexa entre Bolsonaro e o Partido Militar.
Naquele texto, publicado no histórico 07 de setembro de 2021, fica claro que o grande temor de analistas é o poder destrutivo e perigoso do protagonismo de forças militares dentro de uma democracia. E ao termos um segundo general na composição da chapa, fica mais do que claro que esse cenário já está posto. E aqui Bolsonaro é, por mais surpreendente que pareça, apenas mero detalhe.
Está mais do que claro que o atual presidente só escolheu outro colega por temor de que seja vítima de novo golpe parlamentar como o que foi dado contra a ex-presidente Dilma Rousseff, com a diferença que, ao contrário do malabarismo feito pra destituir a petista, Bolsonaro coleciona uma enciclopédia de crimes de responsabilidade que o Congresso poderia usar para derrubá-lo.
Embora esse seja um governo militar de fato, é um erro imaginar que Bolsonaro e os militares são a mesma coisa: um bloco homogêneo totalmente articulado com um ardiloso plano. Não são. Até porque toda categoria tem seus conflitos internos. Nesse caso, um precisa do outro. Claro que a esmagadora maioria das forças de segurança do país pensa como Bolsonaro, o que não significa que morre de amores por ele.
Mourão foi posto como vice com o mesmo intuito: ser um escudo anti-impeachment. E funcionou, visto que até setores da esquerda ficavam hesitantes na hora de pedir o impedimento e citavam o general da reserva como motivo. Mas, se Mourão tivesse o apreço de Bolsonaro, continuaria como vice. Mas tem uma coisa que ninguém está se perguntando: Bolsonaro é um presidente fraco e hoje suas chances de reeleição são poucas. Então pra que se aliar a um eventual perdedor?
Simples: protagonismo. Os militares que articularam a campanha de Bolsonaro só o fizeram por perceberem nele um Cavalo de Troia. Convenhamos, em termos de capacidade de se comunicar, ele derrota inclusive políticos clássicos do Centrão. Braga Netto, Mourão, Heleno, Villas-Boas e companhia há tempos queriam protagonismo político. E com Bolsonaro conseguiram. Mas, se por acaso ele cair ou precisar cair para que eles continuem no palco, azar dele.
Vamos imaginar três cenários possíveis: em um eventual (e improvável) segundo mandato, o Centrão e setores empresariais cansam e cassam seu mandato. Braga Netto assume, negocia com o Centrão e toca o barco com tranquilidade. E se tentarem cassá-lo, aí sim, os quartéis estariam ao seu lado.
Em uma tentativa de golpe, Braga Netto e o partido militar vão se colocar como legalistas de ocasião e “garantir a ordem”, mantendo o protagonismo. E se perderem, continuarão em cena, com ou sem ele, sendo oposição contra a esquerda. Inclusive tramando um golpe real se forem recriadas as condições de 2016, por exemplo.
Em outras palavras: o partido militar conseguiu o protagonismo que sempre quis. E nesse caso, Bolsonaro é uma peça descartável. Se ele pensa que colocar outro militar vai protegê-lo, pode ter uma grande e amarga surpresa no futuro.