Amazônia

No ritmo atual, Amazônia será uma região inabitável até 2100

Relatório IPCC alerta que atemperatura global subirá 2,7 graus até 2100. Na Amazônia, se nada for feito, a perspectiva é muito pior, podendo chegar a 6 graus. Isso nos faria experimentar aumento da estiagem em até 40 dias, além da morte da vegetação por falta d’água

O sexto Relatório de Avaliação (RA) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC em inglês), publicado no último dia 08 de agosto, trouxe um alerta: atemperatura global subirá 2,7 graus em 2100, se se mantiver o atual ritmo de emissões de gases de efeito estufa. Na Amazônia, porém, a perspectiva é ainda pior: se nada for feito, a região ficará inabitável, com aumento de até 6 graus no mesmo período. As mudanças, aliás, já podem ser sentidas.

Já há diversas mudanças aparentes que são consistentes com os efeitos previstos com aquecimento global. “A temperatura média já aumentou por volta de 1℃. As grandes secas causadas pelo El Niño têm aumentado em frequência, como entre os anos de 1997 e 1998, 2003 e 2015. As grandes enchentes, como em 2021 [no Amazonas], aumentaram como previsto”, alerta Philip Fearnside, doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Outra mudança já sentida é a duração estiagem. A seca na região sul da Amazônia aumentou em cerca de 20 dias. “Um estudo recente mostrou baseado em mensurações atmosféricas que fluxo de carbono da floresta já inverteu de absorção para emissão. Outro estudo baseado em modelagem mostrou que as chuvas naquela área já diminuíram por diminuição de transporte de água pelos chamados ‘rios voadores’”, afirma o pesquisador.

Perspectivas ainda piores

Se nada for feito para diminuir as emissões teria até 2100 um aumento da temperatura média na Amazônia em 6 graus. O problema é que essa é a perspectiva mais otimista. Na prática, as temperaturas máximas atingidas seriam ainda piores. E os efeitos também.

Pra se ter uma ideia, na parte leste da Amazônia, os períodos de dias consecutivos sem chuva podem aumentar em até 40 dias. “A variabilidade no teor de água no solo deve aumentar em muito em toda a Amazônia. A floresta deve deixar de absorver carbono e passar para emitir em toda a região, assim contribuindo ainda mais para o aquecimento global. Eventos extremos de enchentes e secas devem aumentar”, afirma Fearnside.

Altas temperaturas combinadas com secas podem matar árvores simplesmente por falta d’água, pois quando a temperatura aumenta qualquer planta precisa de mais água para sobreviver. Também aumento o risco de incêndios florestais, e os danos cada vez que um incêndio ocorra. Essas mudanças também afetam a agricultura, como já foi explicado aqui. Em um cenário como esse, viver na região pode ser simplesmente impossível.

Ação do homem

Embora seja alvo de muito negacionismo, não há mais qualquer dúvida sobre a influência do homem nesse processo.  Embora o aquecimento global seja um fenômeno natural, o desmatamento também causa impactos, contribuindo para o agravamento dos efeitos. O corte da reciclagem de água feita pela floresta, por exemplo, diminui a quantidade de água transportada adiante pelos ventos conhecidos como “rios voadores”, resultando em menos chuva mais adiante.

“Estes ventos vão de leste para oeste cruzando a Amazônia, não conseguem passar por cima dos Andes, e fazem uma curva em direção à região Sudeste brasileira. São vitais não apenas para grandes cidades como São Paulo, mas também para a floresta e para a agricultura ao longo da rota toda antes de chegar lá”, ensina Philip.

O que acontece em uma região tem influência direta em outra. Uma mudança de temperatura em uma região distante do Amazonas, pode causar efeitos graves aqui. Por isso, é preciso entender ainda que ninguém está isolado. “Mudanças da temperatura da superfície dos oceanos Atlântico e Pacífico modificam as correntezas de ar, resultando em secas ou enchentes. Enchentes como 2021 são provocadas por uma combinação de água quente no Atlântico e água fria no Pacífico. Desvios das zonas de convergência intertropical e do Atlântico Sul podem provocar grandes enchentes, como a do rio Madeira em 2014”, ensina o pesquisador.


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