Desde a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Amazonas, no dia 13 de março de 2020 até esta sexta-feira (07/01/22), o governo do estado só realizou 1.501.181 testes para confirmar casos positivos da doença, o equivalente a apenas 35% de toda sua população total. A ampla testagem da população é medida essencial para o controle da pandemia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Considerando apenas os testes que detectam casos ativos e permitem o isolamento de infectados, o chamado RT-PCR, o número é ainda mais baixo: apenas 301.409 amazonenses foram submetido a esse exame, o que representa apenas 7,5 % da população total do estado. Com isso, é praticamente impossível estabelecer medidas de saúde pública e detectar novas variantes, o que torna mais preocupante com a chegada da variante Ômicron a Manaus.
“Em um estado dupla e dramaticamente castigado pela epidemia de Covid-19, não é razoável. Ao mesmo tempo que esse sofrível desempenho da vigilância laboratorial expõe um grave erro das autoridades sanitárias no Amazonas, também ajuda a entender porque tivemos duas ondas explosivas consecutivas de contágios e mortes, em 2020 e 2021”, afirma o epidemiologista Jesem Orellana, pesquisador da Fundação Oswald Cruz Amazônia (Fiocruz Amazônia).
Quais são os testes feitos?
Pra entender por que essa baixa testagem representa um problema, primeiro é preciso entender os diferentes tipos de testes para a Covid-19 que são disponibilizados no país e no Amazonas consequentemente. O primeiro deles é o RT-PCR. A sigla em inglês significa: Reação em Cadeia da Polimerase com Transcrição Reversa. Esses testes determinam de forma mais confiável se a pessoa tem ou não Covid-19, porque identificam a presença de material genético do vírus no corpo.
O segundo é o chamado teste sorológico, que coletam sangue do paciente (pela veia ou pela ponta do dedo), capazes de dar uma resposta quase imediata se a pessoa já teve a doença. O problema é que não se sabe quando. Além disso, como eles são baseados na resposta imunológica do paciente, que pode variar de pessoa para pessoa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alerta que esses testes não confirmam de forma definitiva se a pessoa tem ou não a doença.
O último modelo usado no país atualmente é o teste de antígeno. Ele detecta proteínas na superfície do vírus, e também serve para captar infecções ativas. A grande vantagem é que ele pode ser processado no próprio local da coleta, com resultado em apenas 15 minutos. O problema dele é que um resultado negativo não significa necessariamente que você não tem Covid-19, por isso é preciso repetir o exame de 24 a 48 horas após a primeira realização caso dê negativo.
Governo do Amazonas testa pouco e mal
Como foi explicado, o teste que mais deveria ser realizado por permitir isolar pacientes com a Covid-19 deveria ser o RT-PCR, por ser mais preciso. Ou pelo menos os de antígeno, que são preciso e bem mais rápidos e práticos. No entanto, a proporção é justamente a inversa.
Dos 1.501.181 testes realizados em todo o Amazonas, apenas 301.409 (cerca de 20%) foram do tipo RT-PCR e 153.420 (cerca de 10%) foram de antígeno. A maioria foi sorológica, com 1.046.352 exames (cerca de 70%). E do tipo rápido, que usa coleta de sangue no dedo, que é ainda menos preciso.
A título de comparação, países da África com população igual ao estado do Amazonas ou à capital Manaus testam proporcionalmente mais a sua população. A Namíbia, com 2.055.080 habitantes, população menor que Manaus, realizou 2.039.000 testes. Botswuana, com população ainda menor, de 1.815.508 pessoas, fez 7.976.000 testes. Por último, o Gabão, com 1.454.867 pessoas, realizou 1.743.000 testes. As informações são do site de monitoramento Our World In Data, da Universidade Johns Hopkins (EUA).
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) orienta a população a apenas procurar a testagem em caso de sintomas gripais. No caso, a coleta pode ser feita em em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), mais próxima. Para tentar agilizar esse processo, a SES-AM afirma ter ampliado a oferta do teste de antígeno, e caso seja identificada a presença do novo coronavírus, é realizado o teste RT-PCR.
“Quando a vigilância laboratorial funciona tão mal assim, é impossível monitorar de forma correta a evolução da epidemia, prever oportunamente gastos em assistência médico-hospitalar e contratar recursos humanos, por exemplo, fazendo com que a população esteja sempre mal informada e literalmente subestimando o avanço do espalhamento viral. Em outras palavras, induz ao erro! Como fazer isolamento preventivo de casos ativos na comunidade ou rastreamento adequado de contatos com tamanha subnotificação?”, alerta Jesem Orellana.