Um áudio divulgado nesta quarta-feira (06/04/2022) pelo jornal Folha de S.Paulo mostra a irmã do ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro Adriano da Nóbrega acusando a Presidência da República de cargos em troca do assassinato do ex-policial. O jornal teria conseguido as gravações junto à Polícia Civil do Rio há cerca de dois ano e só foi revelada agora.
No áudio, Daniela Magalhães da Nóbrega afirma para uma tia que o irmão já sabia que seria morto. “Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo”, afirmou Daniela, revelando um possível conluio acertado por Bolsonaro para assassinar o ex-capitão do Bope.
Adriano da Nóbrega era acusado de integrar uma milícia da região de Rio das Pedras, na capital fluminense. Nóbrega era investigado por diversos crimes, e procurado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. Ele também era procurado pelo envolvimento nas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Franco, em março de 2018. A ligação teria acontecido dois dias após a morte do ex-policial.
Ligação com os Bolsonaro
Não é a primeira vez que o nome de Adriano da Nóbrega é ligado ao clã Bolsonaro. O ex-capitão do Bope também era suspeito de envolvimento no esquema da “rachadinha” no antigo gabinete do senador e ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro (PL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). A mãe e a namorada de Adriano inclusive trabalharam no gabinete de Flávio, que inclusive já havia condecorado o policial.
Em abril de 2021, o site The Intercept Brasil obteve parte de um relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio elaborado a partir das quebras de sigilo telefônico e telemático de suspeitos de ajudar o miliciano enquanto ele estava foragido. Os diálogos sugerem que o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi contactado por integrantes da rede de proteção do ex-capitão.
Morte em estranhas circunstâncias
Nóbrega morreu após ser ferido durante uma operação conjunta das forças de segurança do Rio de Janeiro e da Bahia no dia 9 de fevereiro de 2020, no município de Esplanada, no interior baiano. Segundo a secretaria de Segurança da Bahia, no momento do cumprimento de mandado de prisão, Adriano Nóbrega “resistiu com disparos de arma de fogo e terminou ferido”.
Ainda conforme o órgão, o ex-policial chegou a ser socorrido em um hospital da região, mas não resistiu aos ferimentos. Mas uma reportagem da Revista Veja de março de 2021 contesta essa versão com imagens que sugerem que o ex-policial fora executado com tiros a curta distância.
Celulares
Quando foi morto, Adriano estava com 13 celulares. Segundo o site Brasil de Fato, o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), via Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ), informou ao que os telefones foram periciados pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) da Polícia Civil. Os conteúdos, no entanto, nunca foram divulgados na íntegra para o público.