Eleições 2022 Opinião

A “melhora da morte” do governo Bolsonaro

Existe um fenômeno inexplicado na medicina chamado melhora de morte. Nela, pacientes em estado grave ou terminal apresentam uma melhora súbita e inexplicável, morrendo em seguida, às vezes, no dia seguinte. Ao que tudo indica, Bolsonaro protagonizou uma metáfora dentro da política de tal fenômeno neste 07 de setembro de 2022.

Se você leu ou assistiu o noticiário de hoje, viu dezenas de notícias falando dos discursos pedindo golpe de Estado dos seus apoiadores e dos discursos do presidente falando coisas absurdas, desde a comparação entre as primeiras damas, passando pela campanha eleitoral explícita indo parar em um infame coro falando da sua disfunção erétil. Deplorável na melhor das hipóteses, crime de responsabilidade na pior. Mas é claro que, mais do que chocar, o objetivo era pautar o debate. E essa foi a única vitória do presidente. E possivelmente a última.

Um outro fato político no início do dia foi tão marcante quanto esse triste espetáculo, mas passou praticamente batido: mesmo com debates, campanha na TV e na internet, auxílios para várias categorias e o novo Auxílio Brasil de R$ 600,00 conseguiu equilibrar a disputa entre Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) nas intenções de voto no primeiro turno das eleições em mais uma pesquisa da Genial/Quaest. Faltando pouco mais de 25 dias para o primeiro turno, salvo aconteça algo completamente fora da curva, a eleição está desenhada.

Claro que ela está desenhada para um segundo turno em um cenário de total polarização e concentração no confronto entre dois candidatos. Mas aí tem uma outra armadilha para Bolsonaro: se radicalizar demais, assusta os eleitores dos derrotados e os empurra para Lula. Se não fizer nada ou moderar seu discurso, desmobiliza sua base. Tentar um golpe mobilizando milícias de apoiadores também não terá sucesso. Por mais que invada a sede do Supremo Tribunal Federal, não conseguira o que mais interessa: poder para decidir pelas instituições da República.

Claro que, neste momento, os grandes canais de TV e no YouTube vão debater detalhes das cores das bandeiras, trechos das falas do presidente ou das cenas das manifestações para defender que ele sai mais forte ou mais fraco desse 07 de setembro. Bobagem. Se tivesse força, nem teria mobilizado esse circo. Se tivesse conseguido juntar mais força, teria decretado uma intervenção militar. Nem uma coisa, nem outra. Amanhã o país volta a trabalhar e a eleição continua. Ou seja, toda essa encenação de nada serviu. Se você mobiliza apoiadores e nada acontece, você não mobilizou apoiadores.

O fato de ter levado gente para ouví-lo falar sobre sua disfunção erétil é um fato deprimente do ponto de vista histórico do país. Mostra que uma parte da população (minoria ou não, pouco importa) simplesmente não se importa em apoiar um presidente autoritário. Isso é grave e preocupante, mas transcende Bolsonaro. É um problema para os próximos anos. Mas a curto prazo, só serviu pra afagar um pouco seu ego. Nada mais.

Bolsonaro não conseguiu mobilizar apoiadores para um golpe, não construiu material de campanha que fale para eleitores além do que ele já possui, criou uma série de episódios que servem de memes para seus adversário. Tudo isso a menos de 25 dias do primeiro turno das eleições. Talvez tenha sido uma boa ideia pra ele reunir apoiadores em Brasília. Deve ter sido a última vez.

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