Política é a arte de conciliar para equilibrar interesses. É a capacidade de equacionar problemas por meio do diálogo e da concessão. É como eu e você podemos sentar e negociar formas de chegar a um denominador comum. Quando a política falha, sobra a força bruta e a violência. Nesse caso, bons políticos são aqueles que conseguem chegar a esse denominador com maior habilidade. Honestidade não conta. Isso é o mínimo.
O presidente Luís Inácio Lula da Silva sempre teve como maior habilidade a capacidade de conciliar. Goste você dele ou não, seja ideologicamente alinhado a ele, antagonista ou mais à esquerda do que ele, não há como negar que isso sempre foi sua marca registrada. O problema é que, essa mesma habilidade também se tornou seu maior defeito.
Neste início de seu terceiro mandato, não estão faltando críticas com relação à atuação do governo. Seja junto ao Congresso, seja na comunicação, seja no trato com aliados (Marina Silva, Janones, Renan Calheiros) e com sua militância, que muitas vezes briga mais entre si do que pelas suas próprias pautas.
As duas últimas semanas, com o atropelo do Centrão no trâmite de pautas contrárias à sua gestão, como o Marco Temporal e a reestruturação do governo, a fragilidade nas relações institucionais ficou exposta como uma ferida aberta. E o pior: tudo que Lula ainda tem capacidade de articular falta nos seus aliados.
Com isso, o que deveria ser um jogo onde os dois lados atacam e defendem, trocando concessões até chegar ao tão sonhado denominador comum, “virou passeio”, como diria Galvão Bueno. O governo Lula está se resumindo a ele ceder espaço para desejos do implacável Centrão de Arthur Lira (PP-AL) sem qualquer contrapartida.
Como é possível MDB, PSD e União Brasil terem nove ministérios somados sob seu comando e todos votarem em peso no projeto do Marco Temporal? Se o governo Lula ficará isolado, que faça isso distribuindo os ministérios apenas para seus correligionários. Simples assim. “Ah, mas e o medo de impeachment?”. Um governo de joelhos será derrubado assim que não tiver mais utilidade. Por outro lado, um governo que mobiliza apoiadores e mostra força, não cai.
Lula precisa entender rapidamente que o Brasil e o mundo mudaram radicalmente desde 2003. Se antes a política convivia com o fisiologismo e a truculência, hoje o Congresso Nacional foi tomado por eles. E diante de uma selva, é preciso saber jogar o jogo. Não se trata de fazer acordos espúrios, mas de exigir contrapartidas e jogar duro dentro das regras desse jogo.
Política é a arte de conciliar para equilibrar interesses. E esse jogo está desequilibrado. Lula precisa ceder, mas precisa traçar uma linha no chão e defendê-la. E pra isso precisa chamar aliados fora do PT, como Renan Calheiros, Genoíno, Dirceu, Janones e, por que não? Ciro Gomes, cujo tom crítico, mas conciliatório das últimas semanas sugerem uma chance de trégua. Do contrário, sua maior qualidade pode se tornar sua maior fraqueza.