Equador e Catar fazem às 13h tarde deste domingo (20/11/2022) no Estádio Al Bayt o jogo de abertura da 22ª edição da Copa do Mundo de futebol masculino, a competição do esporte mais popular do planeta. Disputada no final do ano em um país menor do que Sergipe, o mundial deste ano é, sem dúvida, a edição mais controversa e polêmica da história.
Pandemia
O momento do planeta, por si só, já torna essa Copa única. É a primeira vez na história que um mundial em estado de pandemia. Apesar do momento não ser comparável aos 18 meses entre o ano de 2020 e o primeiro semestre de 2021, a Covid-19 ainda assola o mundo e pode causar baixas nos times, a depender do isolamento das delegações.
Calor
Outra diferença é o momento em que os jogos vão acontecer. Desde 1930, o Mundial é realizado entre os meses de maio e julho, mas uma adaptação foi necessária para que a edição de 2022 se tornasse viável, devido às temperaturas médias acima dos 30º C registradas no período. Com isso, a Copa do Catar será a primeira disputada no fim do ano, com expectativa de um clima mais ameno. Mas nem tanto assim (mais de 30º C durante o dia e mínima de 25º C à noite).
Direitos humanos
Outra questão muito falada sobre essa Copa são as violações graves de direitos humanos no Catar. Notícias sobre mortes durante a construção dos estádios (segundo o jornal inglês The Guardian, mais de 6,5 mil trabalhadores imigrantes perderam a vida) e o receio quanto à postura da nação com a população LGBTQI+ e com as mulheres também vieram à tona, causando protestos e tensão.
A Human Rights Watch (HRW) fez gravíssimas denúncias contra o país árabe sobre maus tratos, perseguição, tortura e até estupro punitivo contra a população LGBTQIA+. Vale lembrar que no Catar a homossexualidade, por exemplo, é crime. Mulheres trans acusaram formalmente o país de obrigá-las a se submeter a terapias de conversão de gênero.
Em resposta, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, se limitou a dizer que reconhece “problemas políticos” do Catar, mas afirmou que o Ocidente também possui histórico de violações de direitos humanos. Para os torcedores que prometeram boicotar a competição, o mandatário da entidade foi seco: “Não assista”.
Corrupção
Mas você pode estar se perguntando: por que um país pequeno, com condições climáticas tão adversas, sem qualquer tradição em Copas ou mesmo em mundiais e com graves denúncias de violações de direitos humanos recebeu o direito de sediar a competição mais importante do planeta no lugar da uma potência como os Estados Unidos? A resposta: dinheiro. Muito dinheiro.
O Catar foi escolhido como anfitrião do Mundial de 2022 após quatro votações. Após as sucessivas eliminações da Austrália, Japão e Coreia do Sul, o Catar venceu a candidatura dos Estados Unidos por 14 votos contra oito. A conquista desses votos, no entanto, é alvo de controvérsia.
Em 2012, o jornal inglês Sunday Times relatou que integrantes da campanha catari teriam pago para que delegados apoiassem a candidatura do país para receber a Copa do Mundo de 2022. As investigações começaram naquele ano, ouvindo representantes de comitês de todos os países que se inscreveram, membros da Fifa e pessoas que participaram da votação, que, pela primeira vez, elegeu sedes para dois Mundiais em um mesmo ano.
FBI entra em cena
Com a perda da Copa atravessada e a denúncia de corrupção em mãos, os EUA voltaram seu famoso Federal Bureau of Investigation (FBI) contra a entidade máxima do futebol. Em parceria com a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), deu início a uma operação sem precedentes no esporte mundial, que atingiu de cartolas influentes a políticos de prestígio internacional.
O ex-presidente da Uefa e ex-jogador da França Michel Platini foi preso. O governo francês também esteve envolvido. Além de Platini, foi presa uma antiga conselheira do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, Sophie Dion. O ex-secretário-geral do Palácio do Eliseu Claude Guéant prestou depoimento sob o status de “suspeito livre”, segundo o jornal Le Monde.
Em 2016, a Promotoria Nacional Financeira abriu uma investigação por suposta corrupção na escolha do Catar para sediar a Copa. A investigação é centrada na reunião ocorrida em novembro de 2010 entre as autoridades do Catar com Sarkozy e Platini, na sede do governo francês, que também contou com a participação de Guéant e Sophie Dion. Relatório do investigador independente americano Michael Garcia revelou uma série de transações financeiras suspeitas, muitas ligadas a Sandro Rosell, o ex-presidente do Barcelona que serviu como consultor do Catar.
Em maio de 2015, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos indiciou nove dirigentes ou ex-dirigentes e cinco parceiros da Fifa, acusando-os de associação criminosa e corrupção nos últimos 24 anos, num caso em que são investigados subornos no valor de US$ 151 milhões.
A acusação surgiu depois de o Ministério da Justiça e a polícia da Suíça terem detido sete membros da Fifa num hotel de Zurique. Dois dias depois, Joseph Blatter foi reeleito para um quinto mandato à frente da instituição, mas acabou por se demitir, na sequência do escândalo.
Última no atual formato
Outro fator que torna a Copa deste ano marcante é que será a última no atual formato, com 32 seleções divididas em oito grupos, com quatro times. A partir da próxima edição, em 2026 (EUA, México e Canadá), o torneio reunirá 48 equipes, separadas em 16 chaves de três. A mudança foi anunciada pela Fifa em 2017 e foi aprovada por unanimidade no conselho da entidade. Será a primeira vez que as seis confederações terão representação garantida no Mundial – até 2022, o vencedor das eliminatórias da Oceania disputava uma repescagem internacional.
O novo formato deve dificultar a ausência, no Mundial, de seleções tradicionais. A edição do Catar, por exemplo, não terá a tetracampeã Itália, a exemplo do que aconteceu há quatro anos, na Rússia. Atual campeã europeia, a Azzurra foi surpreendida em casa pela Macedônia do Norte, na repescagem. Equipes como Colômbia e Chile (outra que havia perdido a Copa de 2018) também estão fora em 2022.
Com informações da Agência Brasil