O governo Lula se viu nos últimos dias alvo de uma polêmica que colocou mais combustível no já inflamado clima político de Brasília: o general Gonçalves Dias (foto) se tornou o primeiro ministro a deixar o governo no terceiro mandato de Lula. O motivo: participação ainda incerta nos atos terroristas de Brasília no último dia 08 de janeiro.
Dias deixou o cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República nesta quarta-feira (19/04/2023) no mesmo dia em que foi flagrado em vídeos durante os atos e que estavam sob sigilo por fazerem parte de inquérito policial. As imagens foram divulgados pela CNN e mostram o general e outros funcionários da pasta dentro do Palácio do Planalto durante a invasão das sedes dos Três Poderes.
Em nota, o GSI esclareceu que as imagens mostram a atuação dos agentes de segurança para evacuar o quarto e o terceiro pisos do Palácio do Planalto, concentrando os manifestantes no segundo andar, onde, após a chegada de reforços do pelotão de choque da Polícia Militar do Distrito Federal, os golpistas foram presos.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quinta-feira (20/04/2023) que o ex-ministro preste depoimento à Polícia Federal (PF) no prazo de 48 horas. Moraes também determinou que todos os funcionários do GSI que aparecem nas imagens sejam identificados e ouvidos pela PF. O ministro interino do GSI disse que a identificação será cumprida.
Matéria da CNN causa polêmica
O grande catalisador da polêmica foram as imagens em vídeo divulgadas pela CNN. Estranhamente, apenas Gonçalves Dias teve seu rosto identificado entre os invasores. O jornalista Leandro Demori apurou ainda que o autor da reportagem, Leandro Magalhães, foi assessor da liderança do então deputado federal e agora ex-presidente Jair Bolsonaro (na época, no PP).
Mais tarde, após as críticas, a emissora divulgou a íntegra das imagens. Nelas, o homem que aparece distribuindo água aos bolsonaristas foi identificado como o major do Exército José Eduardo Natale de Paula Pereira, membro remanescente da equipe do GSI liderada pelo general Augusto Heleno no governo Bolsonaro.
Na semana do 08 de janeiro, o GSI era um dos que ainda mais contava com integrantes da gestão anterior. A própria Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) informou que o órgão ainda contava com diversos membros remanescentes da gestão anterior.
Teorias e CPMI
A notícia causou alvoroço entre bolsonaristas que usaram as imagens para reforçar a teoria de que havia petistas infiltrados entre os vândalos para estimular a depredação. Com base nessa “teoria”, a oposição articula uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos de 08 de janeiro. A maior suspeita, no entanto, é que esse grupo de trabalho service apenas como palco para teorias bolsonaristas e para atrasar votações importantes no Congresso, como a Reforma Tributária e o Novo Arcabouço Fiscal do governo.
O problema é que o jogo agora se inverteu. O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse, nesta quinta que o governo apoiará uma possível comissão no Congresso para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília.
Padilha disse que o vazamento das imagens, que, segundo ele, foram editadas, criam uma nova situação política. Para Padilha, a comissão vai apontar a tentativa de golpe que foram os atos do dia 8 de janeiro, e será uma pá de cal em quem tenta criar narrativas conspiratórias. Segundo ele, o enfrentamento político de uma CPMI também não deve atrapalhar as votações de pautas prioritárias do governo no Congresso.