Engrenagens

Desde fevereiro, petróleo do Amazonas passou a ser refinado em São Paulo

O Sindicato dos Petroleiros do Amazonas afirma que a Refinaria de Manaus (Ream) vem sendo descaracterizada. A interrupção do refino, segundo a entidade, prejudica diretamente consumidores e aumenta os custos logísticos da Petrobrás

Desde a privatização da Refinaria de Manaus (Ream), em dezembro de 2022, a produção local de petróleo sofreu uma queda acentuada, deixando a população do Amazonas com combustíveis mais caros e uma logística mais onerosa. Hoje, a Ream, controlada pelo Grupo Atem, não refina mais o petróleo extraído em Urucu (AM). Todo o produto produzido na região segue de balsa para São Sebastião (SP), em uma viagem que dura de 14 a 16 dias, para ser processado na unidade paulista da Petrobrás.

O Sindicato dos Petroleiros do Estado do Amazonas (Sindipetro-AM), filiado à Federação Única dos Petroleiros (FUP), denunciou a situação ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no dia 18 de junho. Segundo a entidade, a Ream vem sendo deliberadamente descaracterizada como refinaria, descumprindo compromissos assumidos durante o processo de privatização da antiga Refinaria Isaac Sabbá (Reman). A denúncia aponta que a interrupção das operações de refino prejudica diretamente consumidores e aumenta os custos logísticos para a Petrobrás.

No mesmo dia, o Ministério de Minas e Energia (MME) enviou ofícios ao Cade pedindo providências contra práticas anticoncorrenciais nos mercados de diesel, gasolina e GLP, ressaltando que os consumidores da Região Norte pagam atualmente os preços mais altos do país. O MME apontou que a Ream pratica valores superiores aos de outras fornecedoras e ao Preço de Paridade de Importação (PPI). Desde o primeiro semestre de 2024, a refinaria opera apenas como terminal, sem receber petróleo de Urucu.

Os dados mostram o colapso da produção local: entre 2020 e 2022, a Ream produzia em média 40 mil barris por dia; em 2023, a produção caiu para menos de 30 mil barris/dia; em 2024, despencou para menos de 10 mil barris/dia; e, em 2025, não houve qualquer pedido da refinaria para receber petróleo de Urucu.

“O resultado é que a única refinaria da Região Norte não refina mais nenhum litro de petróleo, enquanto os combustíveis no Amazonas permanecem entre os mais caros do Brasil, chegando a custar até 10% acima da média nacional. A situação ameaça a viabilidade da base de Urucu, aumenta custos logísticos e penaliza diretamente os consumidores”, afirma o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.

Após reuniões entre petroleiros e representantes do Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a agência realizou fiscalizações nos dias 24 e 26 de junho, que resultaram em dois autos de infração e na elaboração de um relatório de auditoria ainda não disponibilizado. A ANP informou que poderá adotar novas medidas após a conclusão do documento. No Cade, as denúncias seguem sob sigilo, e no MME ainda não houve resposta formal.

A situação se agrava diante da importância estratégica do gasoduto Urucu–Coari–Manaus, inaugurado em 2009/2011, que transporta gás natural extraído em Urucu para abastecer termelétricas e indústrias locais. Originalmente orçado em R$ 2,4 bilhões, o custo final da obra atingiu R$ 4,48 bilhões, com capacidade de transportar até 5,5 milhões de metros cúbicos de gás por dia. O gasoduto permitiu substituir combustíveis mais poluentes, como diesel e óleo combustível, por gás natural na região, gerando impacto econômico e ambiental significativo, mas agora opera em contraste com o colapso do refino local.


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