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Amazônia tem chuvas mais fortes e secas severas

Pesquisadores de universidades do Reino Unido e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) identificaram que as chuvas ficaram mais intensas e as secas mais severas na Amazônia nas últimas quatro décadas. O desequilíbrio amplia enchentes, estiagens e pressões socioambientais

Pesquisadores de universidades do Reino Unido e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) identificaram mudanças significativas no regime de chuvas da Amazônia nas últimas quatro décadas. O estudo, publicado em 17/06/2025 na revista Communications Earth and Environment, aponta uma intensificação do ciclo hidrológico: as estações chuvosas estão mais úmidas, enquanto as secas se tornaram ainda mais severas. Esse contraste crescente tem aumentado a ocorrência de eventos extremos, como enchentes históricas e estiagens prolongadas, com efeitos diretos sobre ecossistemas e populações humanas da região.

A pesquisa analisou isótopos de oxigênio em anéis de crescimento de árvores amazônicas para reconstruir a variação sazonal de chuvas desde 1980. As espécies estudadas foram o cedro-vermelho (Cedrela odorata), de áreas de terra firme, e o arapari (Macrolobium acaciifolium), comum em regiões alagáveis. Os dados apontam aumento de 15% a 22% na precipitação durante a estação chuvosa e redução de 5,8% a 13,5% na estação seca. As amostras foram coletadas em áreas separadas por cerca de mil quilômetros na Amazônia Ocidental, reforçando a abrangência do fenômeno.

Esse desequilíbrio provocou um crescimento de quase 18% na amplitude anual das enchentes na região central da Amazônia neste século, em comparação com o anterior. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH/ANA), a média da diferença entre níveis máximo e mínimo dos rios passou de 10,02 metros para 11,79 metros, com registros que ultrapassam 16,7 metros em algumas ocasiões.

“Os registros isotópicos revelam o aumento da intensidade de enchentes e secas”, afirma o pesquisador Jochen Schöngart, do Inpa, acrescentando que o impacto compromete a segurança hídrica e alimentar de milhões de pessoas, inclusive populações tradicionais e indígenas. A intensificação dos extremos sazonais também afeta diretamente a agricultura, a geração de energia e a saúde pública, conforme destacam os autores Roel Brienen e Emanuel Gloor, da Universidade de Leeds.

A pesquisa utilizou modelos isotópicos e análises de sensibilidade para estimar a magnitude das mudanças ao longo do tempo, oferecendo precisão superior aos registros climáticos tradicionais. “O contraste crescente entre as estações chuvosa e seca ameaça a saúde de todo o ecossistema amazônico e das suas comunidades”, alerta a pesquisadora Jessica Baker, da Universidade de Leeds.

Além dos impactos locais, os pesquisadores alertam que essas transformações têm repercussão global. A Floresta Amazônica é uma peça-chave na regulação do clima do planeta e no sequestro de carbono, mas sua capacidade vem sendo comprometida por desmatamento e queimadas. Para os cientistas, compreender essas mudanças é fundamental para prever cenários futuros e formular políticas públicas eficazes.

Com a realização da COP30 prevista para o período de 10 a 21/11/2025 em Belém (PA), os autores enfatizam a urgência de medidas concretas. “Compreender como o ciclo hidrológico da Amazônia está mudando é essencial para orientar estratégias de conservação e adaptação”, afirma o pesquisador Bruno Cintra, da Universidade de Birmingham, coautor do estudo e egresso do Inpa.

Com informações do INPA

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