Dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) apontam que o desmatamento na Amazônia aumentou 18% nos primeiros oito meses do atual “calendário do desmatamento” — contagem anual que vai de agosto a julho, acompanhando o regime de chuvas do bioma. Entre agosto de 2024 e março de 2025, foram desmatados 2.296 km² de floresta, frente aos 1.948 km² no mesmo período do ano anterior. Embora o número ainda esteja 60% abaixo do recorde observado entre agosto de 2020 e março de 2021 (5.552 km²), o crescimento recente acende um sinal de alerta entre especialistas.
Em março de 2025, o Amazonas foi o segundo estado com maior área desmatada da Amazônia Legal, com 39 km² derrubados — 23% do total no mês. O primeiro colocado foi o Mato Grosso (65 km², ou 39%), seguido do Pará (29 km², ou 17%). Ao todo, esses três estados concentraram 80% da devastação da floresta no mês.
O município de Apuí, localizado no sul do Amazonas, liderou o ranking nacional de desmatamento em março, com 15 km² de floresta destruída — o equivalente a 38% do desmatamento registrado em todo o estado. Outro ponto crítico identificado no estado foi o assentamento Rio Juma, onde a devastação alcançou 14 km², área equivalente a 1.400 campos de futebol. O segundo assentamento mais desmatado no mesmo período também está no Amazonas: o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Realidade, com 2 km² devastados.
A pesquisadora Larissa Amorim, do Imazon, ressalta que o aumento da destruição florestal neste momento é preocupante, já que os meses analisados coincidem com o período mais chuvoso da região, quando historicamente os índices de desmatamento tendem a ser menores. “Estamos em uma janela de tempo que pode permitir a reversão desse cenário. Por isso, é preciso agir com urgência”, alerta.
A análise também revela que a maior parte do desmatamento na Amazônia em março de 2025 ocorreu em áreas privadas ou em estágio indefinido de posse (79%). Os assentamentos rurais responderam por 16%, enquanto as Unidades de Conservação foram responsáveis por 5%. Já as Terras Indígenas concentraram menos de 1% do total devastado.
Além do desmatamento, o monitoramento também acompanha a degradação florestal — resultado principalmente de queimadas e extração seletiva de madeira. Embora em março de 2025 os dados tenham apontado uma redução de 90% nesse tipo de degradação em relação ao mesmo mês de 2024 (de 2.120 km² para 206 km²), o acumulado entre agosto e março mostra uma tendência contrária. A degradação florestal subiu 329% no período, saltando de 7.925 km² para 34.013 km² — a maior já registrada desde o início da série histórica do Imazon, em 2008.
Segundo os pesquisadores, esse crescimento da degradação acumulada está diretamente ligado às queimadas registradas nos meses mais secos, especialmente setembro e outubro de 2024.
Apesar de o Pará ser o principal responsável pela degradação florestal detectada em março de 2025 (91% do total), o crescimento do desmatamento no Amazonas, com destaque para áreas de reforma agrária e zonas de ocupação irregular, reforça a necessidade de estratégias específicas e direcionadas de fiscalização e combate. A pesquisadora Manoela Athaide, do Imazon, defende que a pressão concentrada em determinadas regiões exige uma resposta urgente e localizada.
Com a chegada dos meses mais secos, entre junho e outubro, o risco de agravamento da situação aumenta. Especialistas alertam para a urgência em intensificar ações de monitoramento, fiscalização e proteção, sobretudo nos estados e municípios onde a devastação já se mostra mais intensa.
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