A Polícia Federal concluiu, na manhã desta quarta-feira (27/08/2025), o inquérito instaurado a partir da Operação Tupinambarana Liberta, deflagrada em 3 de outubro de 2024, em Parintins, município do Amazonas conhecido pelo Festival Folclórico dos Bois Garantido e Caprichoso. Cinco agentes públicos foram formalmente indiciados pelos crimes de organização criminosa, corrupção eleitoral e abolição do Estado Democrático de Direito, com penas que, somadas, podem chegar a 20 anos de reclusão, considerando as qualificadoras previstas em lei.
A investigação apontou que o grupo teria usado parte da estrutura do governo estadual, incluindo membros da força policial, para favorecer a candidatura de Brena Dianná (União Brasil) à Prefeitura de Parintins. Entre as práticas identificadas estão a compra de votos e ações voltadas a impedir o livre exercício do direito ao voto. O inquérito já foi encaminhado ao Ministério Público Eleitoral, que analisará os elementos apresentados e decidirá sobre as medidas judiciais cabíveis.
A operação foi motivada por uma notícia de fato apresentada pelo Ministério Público Eleitoral de Parintins em 16 de setembro de 2024. Durante as diligências, surgiram indícios de que líderes comunitários ligados a uma facção criminosa nacional estariam ameaçando eleitores e impedindo a circulação de candidatos em determinadas áreas da cidade. Além disso, a apuração identificou omissão deliberada de agentes públicos para beneficiar a candidatura favorecida, monitoramento de adversários políticos e até acompanhamento de equipes da Polícia Federal, numa tentativa de obstruir a atuação da corporação.
Entre os alvos da Operação Tupinambarana Liberta estavam Fabrício Rogério Cyrino Barbosa, Secretário de Administração; Marcos Apolo Muniz de Araújo, Secretário de Cultura e Economia Criativa; e Armando Silva do Valle, diretor-presidente da Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama). Também foram investigados o comandante das Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam), tenente-coronel Jackson Ribeiro, e o capitão Guilherme Navarro, chefe do setor de inteligência da Rocam. Os três secretários e o diretor da Cosama foram exonerados pelo governador Wilson Lima (União Brasil) em 2 de outubro de 2024, poucos dias antes do primeiro turno das eleições municipais, marcado para 6 de outubro.
De acordo com a investigação, os suspeitos teriam se unido a membros de facção criminosa para promover atividades ilícitas, utilizando estruturas do Estado, incluindo forças policiais, para coibir a atuação do candidato adversário Mateus Assayag (PSD). A Justiça Eleitoral determinou a proibição de que os investigados tenham acesso à cidade de Parintins ou mantenham contato com partidos e coligações locais, além de reforçar a presença de agentes da PF na cidade para garantir a segurança do pleito.
Vídeos obtidos pela Polícia Federal reforçam as suspeitas de que membros do alto escalão do governo estadual discutiram estratégias para influenciar o resultado das eleições. As gravações mostram autoridades planejando o deslocamento de policiais e servidores públicos para Parintins, com o suposto objetivo de intimidar eleitores e favorecer a candidatura de Dianná. O governador Wilson Lima negou envolvimento direto nos episódios, mas os exonerados poderão retornar aos cargos caso sua inocência seja comprovada ao final das investigações.
O nome da operação faz referência à forma como os moradores locais se referem à cidade de Parintins, conhecida como “Ilha Tupinambarana, a ilha da magia”, em alusão à rica herança indígena da região, tradicionalmente habitada por povos como os Tupinambás.
Descubra mais sobre Vocativo
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

