Engrenagens

Manaus tem 112 mil moradores em áreas de risco, aponta SGB

Relatório do SGB revela que 112 mil pessoas vivem em áreas de risco em Manaus. Zonas Norte e Leste concentram o maior número de famílias vulneráveis, com destaque para bairros como Jorge Teixeira e Cidade Nova

Um levantamento divulgado nesta quarta-feira (27/08/2025) pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), em parceria com a Defesa Civil de Manaus, revelou que ao menos 112 mil moradores da capital amazonense vivem hoje em áreas classificadas como de risco alto e muito alto para deslizamentos, erosões, alagamentos e inundações. O estudo, realizado entre junho de 2024 e abril de 2025, identificou 438 setores de risco, abrangendo cerca de 28 mil domicílios.

Embora o número de setores tenha caído em relação ao último mapeamento, de 2019, o estudo aponta que os locais críticos passaram a concentrar maior número de residências e de moradores, com aumento da área afetada. Isso se deve tanto ao avanço da ocupação irregular em encostas e margens de igarapés quanto à nova metodologia, que unificou áreas contíguas e utilizou imagens de alta resolução e drones para detalhar a situação.

Expansão desordenada e vulnerabilidade

As zonas Leste e Norte concentram a maior parte dos setores de risco: juntas, reúnem 328 dos 438 identificados, somando mais de 20 mil domicílios expostos. Nessas regiões, marcadas pelo crescimento acelerado e irregular, predominam famílias de baixa renda que constroem suas casas em encostas íngremes, áreas de várzea e margens de igarapés, sem infraestrutura adequada.

Entre os bairros mais afetados estão Jorge Teixeira, Cidade Nova, Gilberto Mestrinho, Alvorada, Mauazinho e Nova Cidade. Só eles concentram 194 setores de risco e cerca de 52 mil pessoas expostas a eventos como deslizamentos e alagamentos.

O peso das chuvas e das cheias

A análise relacionou o número de ocorrências registradas pela Defesa Civil de 2021 a 2024 às chuvas intensas registradas pelo INMET. O resultado mostra uma correlação direta: os meses mais chuvosos, especialmente entre janeiro e abril, coincidem com o maior volume de desastres. Março, com média de 419 mm de precipitação, é o período mais crítico.

Outro fator de risco é a cheia do rio Negro. Em 2021, o fenômeno atingiu cerca de 3,9 mil moradias na cidade. Áreas ribeirinhas e bairros próximos à orla seguem vulneráveis a novas inundações sazonais.

Situações em campo

O estudo documentou sinais claros de instabilidade: postes e árvores inclinados, muros com rachaduras, encostas desmatadas com cortes e aterros irregulares, lançamento de esgoto e lixo diretamente em barrancos e igarapés. Em muitos casos, o agravamento é provocado por construções sobre cursos d’água e canalizações precárias, que bloqueiam o fluxo e ampliam o risco de enchentes.

Nas zonas altas, os solos arenosos e argilosos são suscetíveis a erosões, que se intensificam pela falta de drenagem adequada e pelo modelo de ruas construídas perpendicularmente às encostas, concentrando águas pluviais. Em alguns locais foram registradas voçorocas de grandes proporções.

Ameaça constante

De acordo com o relatório, 5,4% da população de Manaus vive em áreas vulneráveis. A combinação de precariedade social, ausência de infraestrutura e frequência de eventos extremos coloca milhares de famílias sob ameaça constante de perdas materiais e risco de vida.

O documento ressalta que mesmo áreas classificadas como de risco médio em 2019 já apresentam agravamento e podem evoluir para situações críticas se a ocupação irregular e as chuvas intensas persistirem. O SGB recomenda monitoramento contínuo e medidas urgentes de prevenção.


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