Engrenagens

Relatório revela agravamento da violência no Amazonas

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 aponta o Amazonas como um dos estados mais violentos do país, com alta taxa de mortes violentas, feminicídios e letalidade policial. Manaus figura entre as capitais mais letais, com crescimento expressivo em homicídios, estupros e crimes patrimoniais

Um dos estados mais afetados pela violência no Brasil, o Amazonas voltou a figurar entre os líderes nacionais em indicadores de criminalidade, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, divulgado nesta sexta-feira (25/07/2025). Os dados mais recentes, referentes ao ano de 2024, revelam um cenário de agravamento da violência letal, avanço da atuação de facções criminosas e aumento expressivo em registros de homicídios, feminicídios, estupros e mortes causadas por intervenção policial. A capital Manaus, em particular, aparece entre as cidades com maiores taxas de assassinatos do país, reforçando os alertas sobre a crise na segurança pública da região.

O estado do Amazonas aparece entre os líderes nacionais em diversas estatísticas negativas relacionadas à segurança pública. Em 2024, o estado registrou a quarta maior taxa de mortes violentas intencionais (MVI) do país, com 45,7 casos por 100 mil habitantes — muito acima da média nacional de 23,3. O número absoluto de MVI no estado alcançou 1.944 ocorrências, o que representa um aumento de 6,7% em relação a 2023. Esse dado evidencia um agravamento da violência letal na região, contrariando a tendência de queda observada em parte dos estados brasileiros.

Manaus, capital do Amazonas, figura entre as dez capitais mais violentas do país, com uma taxa de MVI de 47,3 por 100 mil habitantes, ocupando a oitava posição. A cidade também aparece com destaque negativo em relação aos homicídios dolosos, com uma taxa de 45,6 por 100 mil — número quase o dobro da média nacional. O perfil das vítimas indica que 94,1% dos mortos por MVI eram do sexo masculino, 74,9% tinham entre 12 e 29 anos e 84,7% eram negros, revelando uma concentração da violência sobre a juventude negra, especialmente em áreas periféricas da capital.

No recorte de feminicídios, o Amazonas também registra números alarmantes. Foram 45 casos em 2024, um crescimento de 18,4% em relação ao ano anterior. A taxa de feminicídios no estado foi de 2,1 por 100 mil mulheres, bem acima da média nacional de 1,4. A maioria das vítimas (66,7%) era negra e 51,1% tinha entre 18 e 34 anos. A letalidade contra mulheres trans e travestis também preocupa: o estado aparece entre os cinco com mais casos registrados proporcionalmente.

Outro dado preocupante é a taxa de mortes por intervenção policial. O Amazonas ocupa a terceira posição no ranking nacional, com 9,9 mortes por 100 mil habitantes. Ao todo, foram 421 mortes causadas por policiais em 2024. Esse número representa um crescimento de 11% em relação a 2023 e reforça a necessidade de discutir o uso excessivo da força e a letalidade policial, sobretudo em operações em comunidades urbanas.

Em relação ao sistema penitenciário, o estado apresenta uma das maiores taxas de encarceramento do país: 576,7 presos por 100 mil habitantes, bem acima da média nacional de 421,4. A população carcerária do Amazonas atingiu 25.135 pessoas, sendo que 42,8% são presos provisórios, ou seja, ainda sem condenação definitiva. A superlotação, somada à atuação de facções criminosas dentro e fora das unidades prisionais, é apontada como um dos fatores estruturantes da crise de segurança na região.

O relatório também destaca a atuação do crime organizado no Amazonas. O estado é citado como uma das principais rotas do tráfico internacional de drogas devido à sua localização estratégica na região amazônica. Facções criminosas disputam território tanto nas fronteiras quanto dentro dos centros urbanos, o que impulsiona os índices de homicídios e outros crimes violentos.

Em crimes patrimoniais, Manaus apresentou crescimento em roubos e furtos. O total de roubos subiu 5,3% em 2024, com 18.211 registros. Já os furtos cresceram 6,7%, somando 23.890 casos. Houve também aumento de 4,5% nos registros de roubos de veículos, com 2.980 ocorrências. Esses indicadores reforçam a percepção de insegurança da população, sobretudo nos bairros mais populosos e com menor presença policial.

Outro ponto de destaque é a violência sexual. O Amazonas registrou 1.725 estupros em 2024, sendo 67,2% das vítimas crianças e adolescentes. A taxa de estupros por 100 mil habitantes ficou em 42,2, também acima da média nacional (33,9). A capital concentrou cerca de 60% dos casos notificados, revelando fragilidades nas políticas públicas de proteção e prevenção.

O Anuário também chama atenção para o aumento da violência armada. O Amazonas teve a segunda maior taxa nacional de homicídios com arma de fogo: 38,7 por 100 mil habitantes. A presença de armas ilegais e o tráfico de armamentos são fatores que alimentam essa realidade. Apesar das operações de apreensão, o controle sobre o armamento ainda é insuficiente na região.


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