O desmatamento na Amazônia Legal brasileira voltou a crescer de forma expressiva no primeiro semestre de 2025. De acordo com dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados em 11 de julho, a região perdeu 2.090 km² de cobertura florestal entre janeiro e junho deste ano — um aumento de 27% em relação ao mesmo período de 2024.
Apesar de o mês de junho ter registrado a menor taxa para o período desde a criação do Deter B, com 458 km² de floresta derrubada, especialistas ponderam que a intensa cobertura de nuvens pode ter dificultado a captação dos alertas de desmatamento via satélite, mascarando os números reais.
Os estados que mais contribuíram para a devastação no mês de junho foram Mato Grosso (206 km²), Pará (111 km²) e Amazonas (100 km²). No acumulado do semestre, Mato Grosso lidera com folga o ranking do desmatamento, com 1.097 km² de área derrubada — um salto de 141% na comparação com o primeiro semestre de 2024.
O monitoramento do Inpe também mostra que, entre os dias 1º e 27 de junho, os alertas de desmatamento se concentraram sobretudo em propriedades privadas, que responderam por 43,5% da área total desmatada no mês. No semestre, essas áreas representaram 39% da destruição, o que corresponde a aproximadamente 795 km² — um aumento de 81% em relação ao mesmo período do ano passado.
Além das propriedades privadas, áreas sem qualquer registro fundiário formal (21,4%) e as chamadas Florestas Públicas Não Destinadas (17,5%) também apareceram com destaque entre os focos de desmatamento. Estas últimas, por estarem em uma espécie de “limbo jurídico”, frequentemente se tornam alvos de grilagem e exploração ilegal.
Os dados ganham relevância em meio a um contexto político e institucional que levanta preocupações sobre possíveis retrocessos na proteção ambiental. Entre os pontos de atenção está a pressão pela flexibilização da Moratória da Soja, um acordo firmado em 2006 entre empresas do setor, ONGs e o governo, que impede a comercialização de soja plantada em áreas desmatadas da Amazônia após 2008. A iniciativa é apontada como uma das responsáveis por ajudar a reduzir em 69% o desmatamento em municípios monitorados entre 2009 e 2022, mesmo com um crescimento de 344% na área cultivada de soja no mesmo período.
Atualmente, a Moratória enfrenta contestações políticas e jurídicas. Leis estaduais aprovadas nos últimos anos em estados como Mato Grosso, Rondônia e Maranhão já restringem benefícios a empresas e produtores que voluntariamente adotam padrões ambientais mais rigorosos do que o exigido pela legislação. Paralelamente, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) conduz uma investigação para apurar se o acordo representa uma prática anticompetitiva no setor, o que pode culminar em sua suspensão e até na aplicação de sanções às empresas envolvidas.
Outro fator que pode estar influenciando o avanço do desmatamento é a possível aprovação do Projeto de Lei 2159/2021, apelidado por ambientalistas como “PL da Devastação”. A proposta tramita no Congresso Nacional e prevê a dispensa de licenciamento ambiental para uma série de atividades agropecuárias. O texto também propõe a implementação do sistema de Licença por Adesão e Compromisso (LAC), mecanismo que permite o autolicenciamento de empreendimentos, sem a necessidade de análise prévia de impactos ambientais por órgãos técnicos.
O PL 2159/2021 também impõe limites à atuação de órgãos federais como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) nos processos de licenciamento ambiental. Especialistas e entidades da sociedade civil veem na proposta uma ameaça ao controle e fiscalização de atividades potencialmente destrutivas em áreas sensíveis da Amazônia.
Com a temporada de estiagem severa se aproximando, o aumento nos índices de desmatamento acende um alerta sobre os impactos cumulativos da degradação florestal, que tende a agravar episódios de queimadas, perda de biodiversidade e alterações climáticas regionais e globais.
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