Um extenso levantamento divulgado em junho de 2025 pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) e pelo Instituto Conviva revela os profundos impactos sociais, ambientais e culturais provocados pela mineração ilegal em diversos estados da Amazônia Legal, com destaque para o Amazonas. O estudo, fruto de pesquisas de campo e entrevistas com comunidades afetadas, alerta para a presença crescente do crime organizado, o uso de trabalho análogo à escravidão e a degradação irreversível de territórios indígenas e ambientais.
No estado do Amazonas, a região do Rio Pitinga, na divisa com Roraima, é citada como um dos polos históricos da garimpagem, atualmente sob controle de grandes mineradoras, como o grupo peruano Minsur. O mapeamento revela que, embora atividades garimpeiras legais estejam sob concessão, práticas ilegais continuam a avançar sobre áreas de preservação e terras indígenas, resultando em deslocamentos forçados, violência contra populações locais e poluição dos rios e igarapés da região.
A Terra Indígena Yanomami, que se estende pelos estados de Roraima e Amazonas, é apontada como o território mais impactado pela mineração ilegal na atual conjuntura. Casos extremos de violência, como o estupro e assassinato de uma criança yanomami de 12 anos em abril de 2022, demonstram a crueldade e a impunidade que marcam a atuação de garimpeiros na região. Além da destruição ambiental, o estudo registra a presença de armas de uso restrito, pistas de pouso clandestinas, embarcações rastreadas por satélite e uma rede logística que envolve tráfico de drogas, armas e exploração sexual.
Os dados apontam ainda que parte significativa da mão de obra dos garimpos ilegais no Amazonas é composta por migrantes em situação de vulnerabilidade, recrutados sob promessas enganosas. Submetidos a jornadas extenuantes e condições degradantes, muitos acabam presos em um ciclo de exploração sem garantias trabalhistas ou acesso a direitos básicos.
As pesquisas foram realizadas entre 2023 e 2024, com metodologia qualitativa e entrevistas mediadas por recursos tecnológicos, como videoconferências e aplicativos de mensagens. Manaus foi uma das cidades escolhidas para sediar oficinas pedagógicas participativas, dada sua concentração populacional e importância estratégica na região amazônica.
O mapeamento integra uma proposta de defesa da ecologia integral inspirada nos documentos da Igreja Católica, como a encíclica Laudato Si’ e a exortação Querida Amazônia, e tem como objetivo subsidiar ações de proteção aos povos tradicionais da floresta. Os autores destacam que o garimpo ilegal é apenas uma das faces de um modelo de desenvolvimento extrativista que avança sobre a Amazônia e que precisa ser urgentemente repensado diante da crise climática e humanitária em curso.
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