O Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, traz um retrato alarmante da situação da violência no Amazonas e, especialmente, em sua capital, Manaus. Embora o estado tenha registrado uma queda de 25,6% na taxa de homicídios entre 2012 e 2022 — passando de 38,9 para 28,9 por 100 mil habitantes —, essa redução é inferior à média nacional, de 33,3%, e encobre desigualdades regionais e sociais significativas.
Em números absolutos, Manaus foi a sexta cidade com maior número de homicídios no Brasil em 2022, com 749 mortes. A capital amazonense também apresentou uma taxa de 32,3 homicídios por 100 mil habitantes, acima da média nacional (21,2). Entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, Manaus figurou na 25ª posição entre os mais violentos do país. Cerca de 60% de todos os homicídios do estado ocorreram na capital, o que a coloca como epicentro da violência letal na região Norte.
O Atlas também destaca uma desigualdade racial marcante. Em 2022, 89,8% das vítimas de homicídios no Amazonas eram negras, enquanto a média nacional foi de 77,8%. A taxa de homicídios entre negros no estado foi de 35,9 por 100 mil habitantes — quase três vezes superior à dos não negros (12,8). Esse padrão se mantém em Manaus, onde a violência letal atinge de forma desproporcional a população negra, evidenciando a persistência de uma estrutura de discriminação racial na dinâmica da violência.
A violência contra mulheres também apresenta indicadores preocupantes. A taxa de homicídios femininos no Amazonas foi de 4,3 por 100 mil habitantes em 2022, acima da média brasileira de 3,5. A situação é ainda mais grave entre mulheres negras, cuja taxa foi de 5,5, quase o triplo da observada entre mulheres não negras (2,0). Manaus aparece como a oitava capital com maior número absoluto de homicídios de mulheres, somando 65 casos em 2022.
A juventude também está entre os grupos mais vulneráveis. A taxa de homicídios entre jovens de 15 a 29 anos foi de 55,1 por 100 mil habitantes em 2022, quase o dobro da média nacional (28,7). Em Manaus, seis em cada dez vítimas de homicídio estavam nessa faixa etária, com maior incidência entre jovens de 15 a 24 anos. Esses números evidenciam uma violência letal dirigida contra um perfil específico: jovem, negro e morador da periferia urbana.
Outro aspecto abordado pelo Atlas é a subnotificação de homicídios. O estado do Amazonas registrou, em 2023, 20 homicídios ocultos — mortes violentas cuja causa real não foi identificada oficialmente e, por isso, ficaram fora das estatísticas convencionais. Esse número representa um crescimento de 150% em relação a 2013. A presença de homicídios ocultos revela limitações no sistema de registro e reforça a ideia de que a violência pode ser ainda maior do que os dados sugerem.
O relatório também trouxe dados inéditos sobre violência contra a população LGBTQIAPN+. Embora o Atlas não apresente recortes estaduais detalhados nesse tema, ele aponta que, no Brasil, os casos de violência contra pessoas homossexuais e bissexuais aumentaram 35% entre 2022 e 2023. Já os casos contra pessoas transsexuais e travestis subiram 43%, com destaque para o aumento entre homens trans. A maioria das vítimas LGBTQIAPN+ é jovem e negra, evidenciando a sobreposição de vulnerabilidades que também se aplica ao Amazonas.
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