Territórios

Ondas de calor podem provocar colapso de ecossistemas como a Amazônia

Algumas áreas já estão deixando de ser sumidouros de carbono (depósitos naturais que absorvem e armazenam o dióxido de carbono - CO2 - da atmosfera) para se tornarem fontes de carbono

O aumento das temperaturas globais torna nosso planeta cada vez mais inabitável e está perturbando processos vitais nos oceanos, levando a Amazônia ao limite de um colapso em grande escala e colocando em risco uma geração ainda não nascida. Essa é uma das conclusões do relatório anual ‘10 Novos Insights em Ciência Climática’, lançado nesta segunda (28/10/2024) pela The Earth League, um consórcio internacional de cientistas e especialistas em clima.

O trabalho revela o impacto avassalador das mudanças climáticas, que podem reverter décadas de progresso em saúde materna e reprodutiva, contribuir para eventos de El Niño mais extremos e causadores de prejuízo, além de ameaçar a Amazônia, um dos mais importantes sumidouros naturais de carbono, juntamente com outros sete insights climáticos cruciais.

Dentre as informações divulgadas, as pressões crescentes sobre a Amazônia estão levando à degradação de seus ecossistemas. Algumas áreas já estão deixando de ser sumidouros de carbono (depósitos naturais que absorvem e armazenam o dióxido de carbono – CO2 – da atmosfera) para se tornarem fontes de carbono, e há uma preocupação com a continuação da interrupção da reciclagem de água em escala regional.

“Devido à mudança climática, os sistemas florestais amazônicos estão se aproximando de vários limites (relacionados à temperatura, precipitação e sazonalidade), além dos quais mudanças ecológicas significativas podem ser desencadeadas, podendo levar a um colapso florestal em larga escala”

Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília (UnB)

“O relatório confirma que o mundo enfrenta desafios em escala planetária, desde o aumento das emissões de metano até a vulnerabilidade de infraestruturas críticas. Ele mostra que o aumento do calor, a instabilidade dos oceanos e a possível virada da Amazônia podem empurrar partes do nosso planeta além dos limites habitáveis. No entanto, também oferece caminhos claros e soluções, demonstrando que, com ação urgente e decisiva, ainda podemos evitar resultados incontroláveis”, diz Johan Rockström, co-presidente da The Earth League e diretor do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, na Alemanha.

“O relatório revela o alcance dos impactos da mudança do clima em diferentes sistemas ecológicos, econômicos e sociais. Com menos ambientes habitáveis, a migração de populações pode se intensificar. Também existe um impacto importante na saúde materna, que pode perdurar por gerações”, afirma Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília) e membro do conselho editorial da publicação.

“Devido à mudança climática, os sistemas florestais amazônicos estão se aproximando de vários limites (relacionados à temperatura, precipitação e sazonalidade), além dos quais mudanças ecológicas significativas podem ser desencadeadas, podendo levar a um colapso florestal em larga escala”, alerta Bustamante.

A pesquisadora alertou que a pressão que a Amazônia sofre com as mudanças de temperatura do planeta somadas às destruições dentro do próprio bioma resultam em um estado de dupla pressão. “O desmatamento e a degradação da floresta por meio de atividades locais (por exemplo, extração de madeira, expansão agrícola) levam à fragmentação do habitat, o que diminui ainda mais a resistência às mudanças climáticas”, avalia Mercedes.

Dois grandes desafios

O relatório também destaca dois grandes desafios para o mundo natural. O aquecimento dos oceanos persiste e os recordes de temperatura da superfície do mar continuam a ser quebrados, levando a eventos de El Niño mais severos do que se compreendia anteriormente. Segundo o relatório, as perdas econômicas globais adicionais projetadas devido ao aumento na frequência e intensidade do El Niño, resultante do aquecimento global, podem chegar a quase 100 trilhões de dólares ao longo do século 21.

A série ‘10 Novos Insights em Ciência Climática’, lançada com a UNFCCC nas COPs desde 2017, é uma iniciativa colaborativa da Future Earth, da The Earth League e do Programa Mundial de Pesquisa Climática, sintetizando os principais desenvolvimentos recentes na pesquisa sobre mudanças climáticas. O relatório deste ano representa o esforço coletivo de mais de 80 pesquisadores de destaque, provenientes de 45 países.

O relatório abrange uma gama de pesquisas climáticas e foi elaborado para subsidiar os formuladores de políticas com o conhecimento mais recente disponível. As informações científicas foram sintetizadas para destacar as implicações políticas que podem orientar as negociações na COP29, que ocorre em novembro, no Azerbaijão, e direcionar as políticas nacionais e internacionais.


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