Continuando a série que relembra a atuação da atual Legislatura da Câmara Municipal de Manaus (CMM), o Vocativo relembra a atuação do vereador Dione Carvalho (Agir). Eleito em 2020 com um discurso focado na segurança pública, Carvalho ficou marcado por um projeto de lei que excluía pessoas pobres de frequentar shoppings, além do indiciamento pela prática de peculato.
Projeto aporofóbico
Em agosto de 2022, o vereador gerou grande repercussão ao prometer a criação de um Projeto de Lei que restringisse a entrada de pessoas de baixa renda nos shoppings da capital amazonense. Durante uma Sessão Plenária da CMM, ele afirmou que a presença de indivíduos em situação de vulnerabilidade social estaria intimidando aqueles que se recusam a dar dinheiro em abordagens nesses estabelecimentos. “Nós vamos [ao shopping] com o intuito de ter mais segurança, conforto e tranquilidade, mas infelizmente isso não acontece, porque quando você está sentado com a sua família esperando, vem alguém lhe pedindo alguma coisa. E se você não der aquele dinheiro, eles xingam a gente”, declarou Dione na ocasião.
A proposta, que ainda mencionava a presença de “grupos e galeras” como fator de violência, não trouxe dados concretos que justificassem sua necessidade, o que provocou reações negativas tanto da população quanto de especialistas em direitos humanos. Dione, no entanto, não deu mais detalhes e, até o momento, o projeto não foi oficialmente apresentado. Procurado à época, o vereador não respondeu aos pedidos de entrevista.
Essa declaração soou ainda mais problemática à luz dos dados divulgados pelo IBGE no final de 2021, que apontaram que 505,3 mil pessoas no Amazonas viviam em extrema pobreza, com menos de R$155 por mês, enquanto 1,79 milhão estavam abaixo da linha de pobreza, sobrevivendo com menos de R$450 mensais. O contexto social e econômico da cidade de Manaus torna a proposta de Dione ainda mais desconexa com a realidade da população, que luta diariamente para sobreviver em meio à crise.
Indiciamento por peculato
Mas os problemas de Dione não se limitam a propostas legislativas polêmicas. Em agosto de 2024, a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) indiciou o vereador por peculato, envolvendo-o em um esquema de “rachadinha”, prática ilícita em que assessores são coagidos a devolver parte de seus salários. As investigações, conduzidas pela Delegacia Especializada em Crimes contra a Fazenda Pública, indicam que a esposa do vereador teria exigido de um assessor que devolvesse a maior parte de seu salário, restando-lhe apenas R$300. Mais uma vez, a assessoria de Dione não se pronunciou sobre as acusações.
O indiciamento reacendeu as críticas sobre a atuação de Dione Carvalho e a ética de seu mandato, que já vinha sendo questionada desde suas declarações de 2022. Com as eleições municipais de 2024 se aproximando, o vereador precisará enfrentar o escrutínio público não apenas sobre suas promessas legislativas, mas também sobre sua integridade diante das acusações de corrupção.
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