IBAMA: Amazonas ainda não solicitou ajuda contra queimadas

Atualizada às 16h15

Enquanto o governo federal intensifica suas ações para controlar os incêndios em diversas partes do país, incluindo o Amazonas, o governo do estado não solicitou ajuda específica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para essas ações. A informação foi divulgada pela própria superintendência da autarquia federal, em m meio a uma das piores crises climáticas já registradas.

De acordo com um informe recente do IBAMA-AM, desde julho foram registrados 21 grandes incêndios florestais no Amazonas, dos quais 19 já foram extintos ou controlados. Esses incêndios, frequentemente relacionados ao desmatamento e à limpeza de pastagens, foram agravados por um dos El Niños mais intensos da história, somado ao aquecimento das águas da porção Norte do Oceano Atlântico, o que gerou estiagens prolongadas em diversas áreas do bioma amazônico.

Para combater esses incêndios, o IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) alegam ter mobilizado 144 brigadistas no Amazonas e 1.621 em toda a Amazônia. Contudo, as operações realizadas no estado têm sido exclusivamente federais, sem demandas específicas de suporte ou coordenação por parte do governo estadual.

Ausência de Coordenação Estadual

A ausência de um pedido formal de ajuda do governo do Amazonas ao IBAMA ressalta uma lacuna na coordenação entre as esferas federal e estadual. Apesar de o governo federal ter realizado reuniões de alinhamento com representantes dos Corpos de Bombeiros da região, incluindo o Amazonas, a falta de uma solicitação direta de apoio pode dificultar uma resposta ainda mais eficaz aos incêndios no estado.

A situação não é novidade. Segundo documentos obtidos pelo Vocativo via Lei de Acesso à Informação em novembro de 2023, a Secretaria de Meio Ambiente do Amazonas só acionou o governo federal sobre as queimadas quando a ministra Marina Silva esteve em Manaus, no dia 04 de outubro do mesmo ano. Bombeiros pediram equipamentos 20 dias antes. Além disso, documento obtido pelo Vocativo via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostra que o IPAAM não enviou nenhum ofício para órgãos do governo federal para tratar da estiagem do Amazonas em 2023.

Operações em Andamento

Apesar dessa falta de coordenação, o IBAMA tem atuado intensivamente em áreas críticas. Na Terra Indígena Tenharim Marmelo, no município de Manicoré, 37 brigadistas do programa PREVFOGO estão em combate desde o dia 6 de agosto, numa operação que já se estende até as noites para conter as chamas. Até o momento, o fogo devastou 27.474,56 hectares de floresta.

Além das dificuldades inerentes ao combate ao fogo, as equipes enfrentam desafios emocionais. Durante a operação, um filhote de anta foi resgatado por brigadistas após ser isolado de sua mãe pelas chamas. Por outro lado, o brigadista Uellinton Lopes dos Santos, que atuava na Terra Indígena Capoto Jarina, em Mato Grosso, perdeu a vida durante o combate. A morte de Uellinton está sendo investigada pelas autoridades locais.

Estrutura e Reforços

No estado do Amazonas, o IBAMA opera com cinco brigadas, incluindo uma brigada de pronto emprego, totalizando 110 profissionais que atuam nos municípios de Humaitá, Manicoré, Apuí e Autazes. O governo federal anunciou que mais 40 brigadistas serão enviados ao estado na próxima semana, elevando o total para 160 profissionais.

Nota

Em nota enviada ao Vocativo, o Governo do Amazonas afirmou que, “desde o início do ano o governador Wilson Lima esteve em contato e reunido, em diversas oportunidades, com ministros de Estado e com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, onde reforçou a necessidade de ação antecipada e apoio das autoridades federais ao trabalho de enfrentamento à estiagem e queimadas que o Governo Estadual vem realizando”. 

A Secom afirmou ainda que em abril de 2024, “foi enviado pelo gabinete do Governador do Estado, ao Ministério de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, órgão ao qual o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) está vinculado, o ofício nº 109/2024, solicitando apoio na locação de aeronaves, aquisição de veículos com equipamentos de combate à incêndio, aquisição de sistemas de bomba d´àgua, locação de caminhões pipas para apoio às ações de combate às queimadas, além de envio de brigadistas do programa Prevfogo, efetivo da Força Nacional e celeridade na liberação de recursos do Fundo Amazônia”. 

Também em abril, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA) teria encaminhado ao MMA o ofício nº 645/2024 solicitando apoio semelhante quanto ao envio de efetivo, equipamentos e aeronaves para serem utilizadas no combate aos incêndios florestais. 

“No dia 21/08 o governador Wilson Lima, juntamente com os governadores do Acre, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Roraima; o vice-governador de Rondônia; e representantes do Mato Grosso, Pará e Tocantins participaram de reunião coordenada pela Casa Civil da  Presidência da República, em que estiveram presentes a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, além dos titulares dos ministérios do Planejamento e Orçamento, Integração e Desenvolvimento Regional, Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, para tratar da crise climática pela qual passa o país”, disse a secretaria.

A pasta afirmou ainda que além de comunicação direta do Governo do Amazonas com Ministério do Meio Ambiente, “foram encaminhados ofícios solicitando a antecipação de apoio no enfrentamento da estiagem aos Ministérios de Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), Portos e Aeroportos e do Desenvolvimento e Assistência Social, Família, e Combate à Fome (MDS), além da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil”. 

Ainda de acordo com o governo, no início do mês de julho o comandante do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM), coronel Alexandre Gama, também esteve reunido com o superintende do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) no Amazonas, Joel Bentes Araújo Filho, para alinhar o trabalho entre as duas instituições no combate aos incêndios no estado no âmbito da Operação Aceiro. Na ocasião, o representante do Ibama informou que não seria possível a atuação em conjunto com o Corpo de Bombeiros por limitações de pessoal do órgão federal.