Territórios

Descaso com servidores compromete preservação da Amazônia

Dados publicados na Terra Brasilis revelam que o desmatamento e da degradação florestal na Amazônia estão aumentando. Fenômenos coincidem com a greve dos servidores do IBAMA e ICMBio, impactando a presença das equipes de fiscalização em campo

Recentes dados publicados na plataforma Terra Brasilis revelam que o desmatamento e da degradação florestal na Amazônia estão aumentando. Nos primeiros 12 dias de julho de 2024, os alertas de desmatamento totalizaram 204,29 km² em 1160 polígonos, um aumento de 100% em relação ao mesmo período de 2023, que registrou 101,5 km² em 601 alertas.

Além disso, a degradação florestal, mais complexa e de longo prazo que o desmatamento, também apresentou um crescimento alarmante. Até o dia 5 de julho, foram registrados 10.543,2 km² de avisos de degradação, um salto de mais de 500% comparado aos 1.848,85 km² do ano passado.

Esses fenômenos coincidem com a greve dos servidores do IBAMA e ICMBio, que começou em 24 de junho, impactando a presença das equipes de fiscalização em campo. Embora a ação judicial movida pelo governo contra a greve não tenha classificado a fiscalização como uma atividade essencial, a ausência das equipes em campo parece estar correlacionada com o aumento nos índices de desmatamento e degradação, seguindo um padrão observado anteriormente durante o governo Bolsonaro.

A análise dos dados do Terra Brasilis reforça essa correlação. Em 2023, ano em que a fiscalização ambiental atuou sem obstruções, houve uma redução significativa de 49,85% no desmatamento (de 10.277,61 km² em 2022 para 5.153,67 km²) e uma queda de 13,14% na degradação (de 18.012,95 km² para 15.645,53 km²). Tais números contrastam fortemente com os índices atuais, sugerindo que a ausência de fiscalização contribui para o aumento das atividades ilegais de desmatamento e degradação.

A degradação florestal é mais complexa que o próprio desmatamento e representa uma ameaça grave ao cumprimento das metas brasileiras para a manutenção da estabilidade climática, alerta o pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), David Lapola. Camuflados por frágeis vegetações, distúrbios ambientais causados pelo homem avançam sobre a biodiversidade, longe do alcance das imagens de satélite e do monitoramento governamental.

Lapola coordenou o estudo “The drivers and impacts of Amazon forest degradation”, publicado na Science em 2023. Ele explica que, diferente do desmatamento, que faz com que a floresta deixe de existir e dê lugar a outras paisagens como o pasto, a degradação afeta os serviços ecossistêmicos da floresta de forma mais sutil e em prazo mais longo. Na prática, transforma a floresta por dentro, com a substituição de espécies tanto da flora, quanto da fauna. Árvores maiores dão lugar a árvores com estruturas menores, menos biomassa e menor capacidade de cumprir os serviços ecossistêmicos.

No artigo “Zero deforestation and degradation in the Brazilian Amazon”, publicado na Trends in Ecology & Evolution, a ecóloga e membra titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Ima Célia Guimarães Vieira e o geógrafo José Maria Cardoso da Silva lembram que “o principal objetivo do Brasil é o desmatamento e degradação zero (ZDD) na Amazônia”, mas que as políticas para esse fim não consideram a heterogeneidade da região.

Já o desmatamento é a remoção definitiva da floresta com as suas características originais, o que impacta o fluxo gênico, a proteção do solo, a ciclagem da água e o fluxo de nutrientes na paisagem nos locais atingidos. A remoção de florestas também causa modificações no comportamento das parcelas de ar associadas, alterando a sua temperatura e umidade, impactando as condições climáticas de forma imediata pela alteração da circulação de ar e das suas características e também o fazem a longo prazo, pela emissão de gases de efeito estufa.


Descubra mais sobre Vocativo

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

1 comentário

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.