Engrenagens Territórios

AM: Organizações denunciam devastação ambiental no Rio Manicoré

Madeireiros com licença concedida pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) estariam promovendo a retirada indiscriminada de madeira da floresta virgem nas terras estaduais do Território de Uso Comum (TUC) do Rio Manicoré

Diversas organizações e comunidades do Amazonas enviaram uma denúncia formal ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM), ao Ministério Público de Contas do Estado do Amazonas (MPC-AM) e à Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) alertando para a devastação ambiental na região do Rio Manicoré, distante 425 km de Manaus.

Segundo o documento, madeireiros com licença concedida pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) estariam promovendo a retirada indiscriminada de madeira da floresta virgem nas terras estaduais do Território de Uso Comum do Rio Manicoré (TUC). Essas atividades, que já vinham ocorrendo há algum tempo, intensificaram-se após a emissão de uma Licença de Operação (LO) nº 272/2022, datada de 4 de novembro de 2022, pelo IPAAM.

A denúncia destaca que os ribeirinhos e povos originários das 16 comunidades afetadas, incluindo duas indígenas, não foram consultados através de audiências públicas, reuniões ou qualquer outro tipo de comunicação pelo IPAAM ou pelas empresas que solicitaram o manejo florestal. Esse fato contraria as normativas de consulta prévia estabelecidas para proteger os direitos dessas comunidades.

Concessão feita pelo IPAAM estaria sendo usada na prática de crimes ambientais em Manicoré. Foto: Divulgação

As organizações signatárias ressaltam a gravidade do problema ambiental e ecológico no Brasil e no mundo, mencionando a seca severa de 2023 na Amazônia e as enchentes recentes no Rio Grande do Sul. Elas alertam para a continuidade dos ataques à floresta, como desmatamento, garimpo ilegal e grilagem de terras, e destacam que a expedição de licenças pelo IPAAM facilita essas atividades devastadoras.

Além disso, a denúncia menciona que, após a região do Pedral, onde ocorre a extração de madeira, há um grande desmatamento em terras da União, agravado por incêndios provocados por madeireiros que atuam no Rio Manicoré. As comunidades alertam que a ciência já previu consequências catastróficas se não houver contenção dessas atividades ilegais.

As comunidades denunciam que o IPAAM continua a conceder licenças que contradizem esses esforços de proteção ambiental do Governo Federal para alcançar o desmatamento zero na Amazônia. Segundo o grupo, as ações do órgão estadual atrapalham as medidas de contenção de incêndios, dragagem de rios e ações da Polícia Federal, IBAMA, FUNAI, Força Nacional, Exército, Marinha e Aeronáutica.

A denúncia é assinada por diversas comunidades e coletivos do Rio Manicoré e outras regiões do Amazonas, incluindo a Central das Associações Agroextrativistas do Rio Manicoré (Coarim) e o Movimento dos Trabalhadores Cristãos do Amazonas, entre outros. Também assinaram a Comissão Pastoral da Terra Regional Amazonas, a Pastoral da Terra da Arquidiocese de Manaus, e a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos de Parintins.

As organizações solicitaram às autoridades competentes investigações rigorosas, apuração dos responsáveis e punição dos madeireiros envolvidos nos crimes ambientais, bem como uma revisão das ações do IPAAM, que, ao invés de proteger, estaria permitindo a devastação ambiental na região do Rio Manicoré.

Ipaam se manifesta

Procurada pelo Vocativo, a assessoria de imprensa do IPAAM enviou nota nesta segunda-feira (22/07/2024) afirmando que “a Licença de Operação (LO Nº 272/2022 1ª Alteração) foi regularmente expedida, com validade até 29 de agosto de 2024, autorizando a exploração florestal, por meio de PLANO DE MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL (PMFS), no imóvel Pedral, localizado na margem esquerda do Rio Manicoré, município de Manicoré/Am”.

O órgão alegou ainda que “a área licenciada para o manejo não é a mesma denunciada à Procuradoria Geral do Estado do Amazonas (PGE-AM). No entanto, este órgão informa que novas vistorias serão realizadas na área da denúncia, juntamente com outros órgãos ambientais, por se tratar de local onde é necessária logística complexa para realização da ação”.

O Ipaam finalizou a manifestação afirmando que “é imperativo esclarecer, também, que Manejo Florestal é uma atividade que preserva e mantém a floresta em pé, portanto combatendo justamente a exploração irregular e o desmatamento”.


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