Opinião

Cenário político de Manaus para as Eleições de 2024 é deprimente

Um debate pobre de ideias, uma atual gestão recheada de denúncias graves e um candidato que vive da espetacularização de narrativas. Com esse cenário deprimente, o eleitor de Manaus sofrerá para encontrar um candidato viável nas eleições de 2024

Entre esta sexta-feira (12/04/2024) e este sábado (13/04/2024), alguns acontecimentos envolvendo o cenário político do Amazonas mostraram que o eleitor terá um verdadeiro um show de baixarias nas eleições municipais deste ano. Além de um debate pobre de ideias, um episódio envolvendo lixo digno de comédia pastelão mostrou que a cidade ainda carece seriamente de renovação nos seus quadros.

Na sexta, quatro pré-candidatos a prefeitura de Manaus estiveram na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AM) para debater sobre propostas de governo. Ou tentaram, na verdade. Embora até tenham se esforçado, Maria do Carmo Seffair (Novo), Marcelo Amil (PSOL) e Wilker Barreto (Mobiliza) pouco mostraram. Do candidato da extrema direita, Capitão Alberto Neto (PL), já não se esperava nada, então, zero surpresa.

O que todos os candidatos até o momento ainda não perceberam é que são aspirantes ao cargo de prefeito de uma capital do país. Se querem convencer o eleitor a dar os cofres da cidade por quatro anos, não podem repetir trivialidades do senso comum. Dizer que a cidade tem problemas estruturais de décadas ou que a administração do prefeito David Almeida (Avante) – ausente do encontro – é ruim, o eleitor já sabe. É preciso mostrar alguma coisa.

Estamos a seis meses da eleição. Se não é possível que todos os candidatos estivessem definidos há mais tempo, ao menos os diretórios regionais dos partidos já deveriam ter algum esboço de projeto para os problemas mais graves da cidade. Afinal, a função dessas coletividades é indicar os representantes que serão votados pelo povo para representá-lo. O que ficam fazendo ao longo de quatro anos? Olhando o tempo?

Episódio do lixo

Sem dúvida, um incidente envolvendo os dois principais líderes nas pesquisas de intenção de voto é o maior indicador do quão lamentável é o quadro político de Manaus. Neste sábado, os secretários municipais Sabá Reis e Antônio Stroski, que respondem, respectivamente, pela Limpeza Urbana (Semulsp) e Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mudança do Clima (Semmasclima) anunciaram denúncia administrativa e criminal contra o deputado federal Amom Mandel pela prática de crime ambiental.

Tudo começou horas antes, quando uma equipe do projeto “Galho Forte”, de autoria do deputado teria despejado, em via pública, em frente à entrada do aterro sanitário da cidade, cerca de quatro toneladas de lixo, mesmo tendo sido orientado por funcionários do local a realizar o descarte em coletores autorizados. Mandel, por sua vez, alega que a equipe do projeto foi impedida de entrar no local pela prefeitura.

A situação chegou ao nível tão vexatório que, ao longo da tarde, a prefeitura chegou a marcar duas coletivas de imprensa, a primeira na sede da Polícia Federal (PF) e a outra na entrada do aterro sanitário da cidade. Nas duas ocasiões, a assessoria do deputado também marcou coletivas nos mesmos locais, deixando claro que o objetivo era promover algum encontro entre sua equipe e a prefeitura, o que de fato acabou acontecendo.

Ao se dirigir a Sabá Reis, Mandel fez várias acusações, mas não mostrou provas. “Reunimos centenas de voluntários da cidade de Manaus para fazer o trabalho que a prefeitura de Manaus deveria fazer e não faz. O dinheiro do meu bolso e do seu saiu para pagar uma empresa investigada pela Polícia Federal por notas frias. Não deixaram a gente entrar, estão querendo nos barrar, estão querendo cobrar para entrar”, disse no local.

Suspeitas na Semulsp

Que a Semulsp possui histórico de problemas, o leitor do Vocativo está cansado de saber. Em outubro de 2022, o Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM) investigou contrato de R$ 48 milhões firmado sem licitação pela Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp) com uma empresa com valor 17% acima do praticado no mercado.

Durante as eleições gerais de 2022, funcionários de limpeza pública foram acusados de pedir votos para o filho de Sabá Reis, o ex-presidente da Câmara Municipal de Manaus (CMM), David Reis. No dia 25 de setembro daquele ano, um grande evento para os garis da Semulsp com o sorteio de milhares de brindes, como televisões, geladeiras, microondas e etc, além de distribuição de bebidas alcoólicas, comida e cesta básica para os participantes.

No local, houve relatos da distribuição de santinhos e material eleitoral do presidente da Câmara Municipal de Manaus, David Reis e do irmão do prefeito, Daniel Almeida, ambos disputam o pleito eleitoral e concorrem aos cargos de deputado federal e deputado estadual.

Em junho de 2023, a Operação “Dente de Marfim” investigou crimes de sonegação fiscal, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e corrupção. Os agentes investigam indícios de graves irregularidades nas duas últimas administrações da prefeitura de Manaus. Dentre os alvos da operação estão o até hoje secretário municipal de limpeza pública, Sabá Reis.

Esse breve histórico, em qualquer gestão séria, teria rendido a demissão de Sabá Reis para que ele respondesse judicialmente a respeito. A manutenção do secretário no cargo, mesmo diante de tantas denúncias sérias, mostra que o prefeito David Almeida não se preocupa com a transparência da sua gestão, pra dizer o mínimo.

Político de redes sociais

Porém, mesmo esse histórico de polêmicas não torna a narrativa do candidato Amom necessariamente verdadeira. Até o momento, não foi mostrada nenhuma prova de cobrança de propina ou de que o procedimento dos voluntários do Galho Forte foi o adequado. E se tem uma coisa a qual Mandel tem se mostrado especialista é nisso: espetacularização. Em menos de dois anos em Brasília, o deputado federal do Cidadania coleciona várias denúncias vazias.

Primeiro acusou uma ativista sem qualquer prova de ser envolvida com traficantes apenas para atacar o governo federal. Depois, logo após ser alvo de uma batida policial, fez escândalo para dizer que órgãos do estado eram envolvidos com o crime organizado e entregou uma denúncia genérica. Depois posou de ativista ambiental na COP-28 enquanto defendia uma obra lesiva ao meio ambiente, a repavimentação da BR-319. Fora os rompantes nas redes sociais.

O fato é que a carreira do jovem deputado, até o presente momento, se resume a narrativas pirotécnicas de escândalo que logo são esquecidos, seja de projetos genéricos que até são interessantes, mas além de paliativos, ficam em segundo plano diante de tanta beligerância. Pra fazer uma gestão minimamente eficiante, será preciso bem mais que isso. E o pior: na hora do debate, quando seria possível avaliar suas ideias práticas, Amom faltou.

E assim ficamos

Diante desse cenário, cabe ao eleitor rezar para surgirem novos nomes ou que os indicados até o momento se adaptem às exigências do cargo. Porque problemas não faltam. Seja do caótico sistema viário da cidade, a falta de arborização que torna a sensação térmica ainda maior, até a suspeita de superendividamento. Mas pra começar, os candidatos precisam mostrar conhecimento básico do que são esses problemas e propostas minimamente práticas de como resolvê-los.

Um erro comum detectado nesse debate foi a falta de compreensão de um ponto importante: cidades modernas conseguiram equacionar problemas ao entenderem que a integração de serviços e projetos é a única alternativa. Seria importante os planos de governo entenderem esse ponto. Também será preciso mostrar capacidade mínima de articulação, tanto com a Câmara Municipal, governo do Estado, Bancada em Brasília e, principalmente, com o governo federal, que poderá ser de suma importância para obter recursos de obras de infraestrutura. E pelo que foi apresentado até aqui, nenhum dos pretendentes tirou nota mínima pra isso.


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