O ex-ministro da Saúde e atual deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) está sendo investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) pelas mortes de pacientes por falta de oxigênio nos hospitais de Manaus durante o ápice da segunda onda da pandemia de Covid-19, em janeiro de 2021. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (22/03/2024) pela coluna Radar, da Veja.
Segundo a revista, um documento da Advocacia-Geral da União (AGU) admitiu que a gestão Pazuello tinha conhecimento do “iminente colapso do sistema de saúde” do Amazonas dez dias antes da tragédia. Na época, ao invés de elaborar um plano de emergência para isolar e rastrear casos, o então ministro da saúde insistiu no uso do chamado “kit Covid”, formado por medicamentos ineficazes contra a doença, o que teria contribuído para as mortes.
No dia 14 de janeiro de 2021, Manaus viveu provavelmente o dia mais sombrio da sua história. Devido ao número exponencial de casos de Covid-19, cerca de 31 pessoas (o número não é exato) acometidos pela doença morreram por asfixia mecânica em hospitais da capital porque o fornecimento de oxigênio da rede não deu conta do atendimento e entrou em colapso. O Vocativo reuniu aqui as principais informações sobre o que aconteceu no período.
Opinião
Que as mortes desses pacientes (e todos os outros no período) tem as digitais de Pazuello e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não há dúvidas. Como respectivamente gestor do Sistema Único de Saúde (SUS) que desconhecia o próprio sistema e chefe da nação que incentivava o contágio das pessoas sistematicamente, ambos precisam responder pelo que aconteceu.
Mas se o interesse dessa movimentação for puramente político, de gerar um fato contra um opositor do atual governo, então Bolsonaro e Pazuello (apenas o ministro) serão os únicos investigados. Mas nesse ponto convém perguntar: Ora, se a pandemia estava em seu momento mais crítico no Brasil em janeiro de 2021, por que só Manaus sofreu com essa atrocidade? Se Bolsonaro era presidente e Pazuello o ministro da saúde do país todo, por que outras cidades não sofreram o mesmo?
A responsabilidade de Bolsonaro e Pazuello é inquestionável, mas precisa ser dimensionada. Se a investigação tiver como objetivo apurar os responsáveis e fazer justiça para os familiares, três nomes precisam ser lembrados: Marcellus José Barroso Campêlo, Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto e Wilson de Miranda Lima. O então Secretário de Saúde do Estado soube com meses de antecedência que um novo pico de casos poderia colapsar a rede de oxigênio do Estado e, ainda assim, não acionou o governo federal. Anotem: a defesa de Pazuello usará esse argumento e, de certo modo, está certo.
Wilson Lima e Arthur Virgílio Neto sabiam que a pandemia ainda estava longe do fim, tinham autoridade do STF para decretar lockdown e decidiram deliberadamente manter atividades econômicas funcionando às vésperas das festas de final de ano, permitindo aglomerações que se tornariam verdadeiras armadilhas mortais. Vamos ser sinceros: em janeiro de 2021, havia pouco a ser feito. A tragédia já havia sido plantada meses antes. Ali foi apenas o seu desfecho.
Também é fundamental questionar órgãos de controle e poder judiciário locais. O segundo só determinou o fechamento de atividades no final de 2020, coincidentemente ou não, quando o então presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Aristóteles Thury, desenvolveu quadro grave de Covid-19 (vindo a falecer justamente no dia do colapso, embora não tenha sido oficialmente vítima dele). Já o Ministério Público do Estado até hoje, mais de três anos depois, nada fez.
Por último, mas não menos importante, o legislativo local, tanto da Câmara Municipal de Manaus quanto Assembleia Legislativa do Amazonas a tudo assistiram em silêncio absoluto. É inconcebível em qualquer parte do planeta que uma tragédia dessas proporções nunca tenha tido absolutamente nenhum desdobramento local, nenhuma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ou audiência pública. Absolutamente nada.
Embora tenha tido votação expressiva nas eleições de 2022, é inegável que há uma forte rejeição a Bolsonaro em todo o país. E muitas das suas atitudes e de seus aliados como Pazuello andando no shopping da capital sem máscara revoltaram e indignaram a opinião pública. Mas as famílias das vítimas da tragédia de Manaus merecem a justiça completa, não só pela metade. Já basta o escarnecimento das autoridades locais de permitir a impunidade total do ocorrido. Se o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria Geral da República (PGR) vão tomar uma atitude, que façam contra toda a corrente que nos trouxe essa catástrofe. E nela, Pazuello é apenas um dos elos.
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