Engrenagens

Mulher amazonense tem carga de quase 58 horas semanais de trabalho

No poder Legislativo e Executivo, nenhuma mulher do Amazonas ocupa cadeira na Câmara dos Deputados, e apenas cinco prefeitas foram eleitas em todo o estado, o que não chega a 10% das vagas no executivo municipal ocupadas em 2020

Sobrecarregadas pelo trabalho, longe da política e com sérias dificuldades no mercado de trabalho. O levantamento Estatísticas de Gênero – Indicadores Sociais das mulheres no Brasil divulgado no último dia Internacional da Mulher (08/03/2024) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traz à tona uma série de desafios enfrentados pelas mulheres no Amazonas, revelando disparidades significativas em relação aos homens em diversas áreas.

Segundo os dados coletados em 2022, as mulheres no estado dedicaram, em média, 20,4 horas semanais aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos, uma diferença de 7,7 horas a mais do que os homens. Essa carga de trabalho foi ainda mais pesada para mulheres de 60 anos ou mais, atingindo 20,8 horas, e para aquelas com idades entre 30 e 49 anos, chegando a 21,1 horas. Além disso, as mulheres pretas e pardas foram as que mais se dedicaram a essas tarefas.

Para as mulheres que trabalham fora, a situação se torna ainda mais desafiadora, com a carga semanal de trabalho ultrapassando as 57,7 horas quando somados os compromissos profissionais, familiares e domésticos. Considerando o recorte por cor ou raça, no Amazonas, as mulheres da cor preta ou parda tiveram maior dedicação a afazeres domésticos e cuidados com pessoas (17h) do que as de cor branca (16h).

O desemprego também afeta de forma desproporcional as mulheres no Amazonas, sendo que a maioria das vagas de trabalho perdidas é ocupada por elas. Cerca de 30,6% das mulheres, de 15 a 24 anos, não estudam, não estão ocupadas e não estão em treinamento. Para os homens o percentual identificado, no mesmo critério, foi de 18,1%,indicando que maioria dos jovens que não trabalham e nem estudam é composta por mulheres.

Entre as docentes do nível superior, o estado fica atrás da maioria dos outros estados da Região Norte, assim como os nascimentos assistidos por pessoal qualificado. Em 2022, o Amazonas tinha 2.701 mulheres docentes no ensino superior e 3.048 homens. A proporção de mulheres foi de 47%. Conforme dados pesquisa, feita em um universo de 35 mil pessoas, a proporção de mulheres em cargos gerenciais (38%), no Amazonas, também ficou bem abaixo do total ocupado por homens (62%).

Na esfera política, a representatividade feminina é ainda mais escassa. No poder Legislativo e Executivo, nenhuma mulher do Amazonas ocupa cadeira na Câmara dos Deputados, e apenas cinco prefeitas foram eleitas em todo o estado, o que não chega a 10% das vagas no executivo municipal ocupadas em 2020. Mesmo quando ocupam cargos gerenciais, as mulheres continuam sendo minoria, embora ganhem mais em comparação aos homens.

 Do total de mulheres, 38 ou ainda 1,8%, foram vítimas de violência no domicílio. Pelo critério cor ou raça, dessas 38 mulheres, duas foram identificadas como sendo da cor branca e 35 da cor preta ou parda. No que se refere à violência fora do domicílio, um total de 1.609 pessoas foram vítimas de homicídios, sendo 1.510 homens e 97 mulheres (oito identificadas como brancas e 76 como pretas ou pardas). Outro dado alarmante revelado pelo estudo é que mais de 80% dos casos de violência contra a mulher têm como autores pessoas conhecidas.

Essas descobertas fazem parte do Conjunto Mínimo de Indicadores de Gênero (GMIG) e foram divulgadas hoje pelo IBGE, como parte de um trabalho trienal que também foi realizado nos anos de 2018 e 2021. O estudo analisa as desigualdades de gênero, considerando tanto diferenças biológicas quanto aquelas socialmente construídas, e aborda também as disparidades entre as mulheres, levando em conta aspectos como cor ou raça, local de residência, idade, renda, deficiência, entre outros.


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