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Após boato sobre a dengue, procura pela ivermectina sobe 44%

Já nos quinze primeiros dias de fevereiro, esse dado já ultrapassa 46 mil visualizações no produto, ou seja, um aumento de 44%

Desde que passaram a circular em diversas redes sociais boatos do uso de Ivermectina para o tratamento da dengue, a plataforma de produtos farmacêuticos Consulta Remédios (CR), observou um aumento nas buscas pelo medicamento. Na primeira quinzena de dezembro, as buscas chegaram a cerca de 30 mil.

Já nos quinze primeiros dias de fevereiro, esse dado já ultrapassa 46 mil visualizações no produto, ou seja, um aumento de 44%. O Brasil vive hoje um surto da doença, que é perigosa e pode levar à morte. Estimativas divulgadas pelo Ministério da Saúde revelam que os casos já chegam a quase 400 mil somente em 2024.

“É falso que esse medicamento combata a doença. É um antiparasitário, enquanto a dengue é um vírus. A questão da automedicação é muito complicada, sobretudo quando se fala de dengue. Não existe hoje qualquer protocolo de tratamento da enfermidade com a Ivermectina, mas a gente nota que houve sim um aumento expressivo nas buscas dentro da plataforma, o que é preocupante”, alerta Rafaela Sitiniki, farmacêutica responsável pela CR.

Se comparado os meses cheios, as buscas em dezembro na plataforma chegaram a cerca de 67 mil, enquanto em janeiro, ultrapassam a casa das 90 mil visualizações. “Não quer dizer exatamente que todas as pessoas estão comprando a medicação, porém notamos um aumento de 58% nas vendas em janeiro/24 se comparado à média mensal do último trimestre de 2023 . O aumento na busca indica que as pessoas estão acreditando naquilo que está sendo divulgado. Além de não ser uma prática segura, a automedicação pode mascarar sintomas importantes e comprometer a eficácia do tratamento, especialmente em doenças graves como a dengue”, alerta a profissional.

Além da Ivermectina, medicamentos como analgésicos e anti-inflamatórios, como é o caso do popular ácido acetilsalicílico, presente na Aspirina, e o ibuprofeno, podem oferecer riscos aos pacientes. “O ácido acetilsalicílico, em particular, possui propriedades anticoagulantes, reduzindo os fatores de coagulação sanguínea. Esse efeito anticoagulante pode facilitar sangramentos e complicar o processo de cicatrização, tornando-se um fator de risco adicional. Outros medicamentos anti-inflamatórios denominados hormonais ou corticoesteroides como dexametasona, prednisona, prednisolona e hidrocortisona também devem ser evitados, pois podem facilitar a tendência de hemorragias”, diz Rafaela.

Entre outros problemas ocasionados pela automedicação, estão ainda um possível atraso ou até mesmo falso diagnóstico causado pelo mascaramento de sintomas, e reações adversas que uma possível interação medicamentosa possa causar. Por isso, é importante que ao aparecerem os primeiros sintomas, as pessoas devem procurar imediatamente atendimento médico nas Unidades de Saúde da Atenção Primária do Sistema Único de Saúde (SUS).

Os sintomas da dengue geralmente incluem febre alta, dores de cabeça, musculares, nas juntas e no fundo dos olhos, fraqueza e manchas na pele, que muitas vezes podem ser confundidos com os de outras doenças, como gripe ou resfriado. “Essa confusão diagnóstica é que leva à automedicação. Mas em época de surto de dengue, é preciso que as pessoas tenham mais responsabilidade”, diz a farmacêutica.


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