Territórios

Amazônia pode atingir ponto de não retorno até 2050

Autores analisaram quais seriam os limites críticos para cada um dos fatores de estresse na Amazônia que, se ultrapassados, podem levar a colapsos locais, regionais ou mesmo de todo o bioma

Um artigo científico liderado por pesquisadores brasileiros estampa a capa da revista Nature. Publicado nesta quarta-feira (14/02/2024), o estudo alerta que a Amazônia pode atingir até 2050 um ponto de não retorno, o que indicaria o início do colapso parcial ou total da floresta. Entre as possíveis consequências, está uma aceleração do aquecimento global.

As conclusões são de pesquisa conduzida por Marina Hirota e Bernardo Flores, da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), com colaboradores do Brasil, Europa e Estados Unidos e que teve financiamento do Instituto Serrapilheira.

Com base na revisão de artigos, modelagens estatísticas e na construção de uma análise inédita sobre o tema, os autores apontam os principais fatores de estresse na Amazônia –como o aumento das temperaturas, as secas extremas, desmatamento e incêndios– e determinam quais seriam os limites críticos para cada um deles que, se ultrapassados, podem levar a colapsos locais, regionais ou mesmo de todo o bioma. Também sugerem medidas para reduzir esses riscos.

A estimativa do grupo é que, até 2050, 10% a 47% da floresta esteja exposta a ameaças graves que podem levar a transições ecossistêmicas – o que também traria impacto no clima, reduzindo chuvas na região e aumentando risco de um colapso em larga escala. “O ponto de não retorno é isso: um ponto a partir do qual o sistema se retroalimenta numa aceleração de perda de florestas, e perdemos o controle”, explica Flores.

A ideia de um colapso na floresta amazônica assusta. E as consequências não são pequenas. Como a Amazônia armazena grandes quantidades de carbono, uma perda florestal, com consequente emissão desses gases, poderia acelerar o aquecimento global. Em outro impacto, a perda de florestas em grandes regiões da Amazônia acaba por reduzir a circulação da umidade atmosférica, o que afetaria o regime de chuvas não só em regiões próximas no continente, mas também em outras partes do mundo, como a Ásia e a Antártida.

Os autores alertam que, nas últimas décadas, a Amazônia começou a enfrentar uma pressão sem precedentes resultante de alterações climáticas e de uso do solo. Entre os fatores que geram estresse a esse sistema, estão o aumento das temperaturas, as secas extremas, o desmatamento e incêndios.

Tudo isso acaba por enfraquecer os mecanismos de feedback que garantem a resiliência da floresta. Todos os dias, as árvores da floresta amazônica bombeiam enormes quantidades de água do solo para a atmosfera, aumentando a concentração de umidade atmosférica. Na prática, as florestas aumentam as chuvas, e as chuvas aumentam a resiliência das florestas.

O problema, segundo os pesquisadores, é que os mecanismos que antes garantiam essa resiliência começam a perder força e a ser substituídos por outros que aumentam o risco de uma “transição crítica” – ou seja, o risco de uma perda florestal e proximidade de um ponto de não retorno.

Neste sentido, o grupo calcula o que seriam limites críticos para serem atingidos, o que poderia causar um colapso de partes ou de toda a floresta. São eles: o aumento na temperatura média global acima de 1,5ºC, volume de chuvas abaixo de 1.800 mm, duração da estação seca superior a cinco meses e desmatamento superior a 10% da cobertura original da floresta, somada à falta de restauração de pelo menos 5% do bioma. “Estamos nos aproximando de todos os limiares. No ritmo em que estamos, todos serão alcançados neste século. E a interação entre todos eles pode fazer com que aconteça antes do esperado”, afirma Flores.

Medidas urgentes

Ainda no estudo, os pesquisadores analisam dados de regiões de florestas com maior impacto de fatores de risco como forma de entender o que poderia acontecer com o ecossistema. O grupo aponta três tipos principais de trajetórias, as quais incluem regiões de florestas degradadas, savanas de areia branca e áreas não-florestais degradadas – o que aumenta o risco de espalhar incêndios.

“Em alguns casos, a floresta pode se recuperar, mas permanece presa em estado degradado, dominada por plantas oportunistas, como cipós ou bambus. Em outros casos, a floresta não se recupera mais e persiste presa em estado de vegetação aberta e com incêndios recorrentes”, explica Flores.

Diante desses cenários, os autores apontam que manter a floresta amazônica resiliente dependerá de uma combinação entre esforços locais para acabar com o desmatamento e expandir a restauração da floresta e esforços globais para parar a emissão de gases de efeito estufa, mitigando assim os impactos das mudanças climáticas. A avaliação dos pesquisadores é que ambas as frentes são cruciais para manter a Amazônia viva para as gerações futuras.

“A Amazônia é um sistema complexo, o que torna extremamente desafiador prever como os diferentes tipos de floresta responderão às mudanças globais. Se quisermos evitar uma transição sistêmica, precisamos adotar uma abordagem preventiva que mantenha as florestas resilientes nas próximas décadas”, afirma Marina Hirota, uma das autoras.

Com informações da Assessoria de Imprensa Instituto Serrapilheira

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