Engrenagens

Governo foi avisado sobre risco de incêndio em agosto de 2023

A tragédia que desabrigou centenas de pessoas no último sábado poderia ter sido evitada. Isso porque o governo do Amazonas já havia sido alertado para o risco de acidentes na área em agosto de 2023

Na tarde deste sábado (20/01/2024), um incêndio de grandes proporções atingiu cerca de 30 casas na comunidade Bairro do Céu, no centro de Manaus. Ao todo 113 famílias foram impactadas, fazendo com que 281 pessoas perdessem suas moradias. A tragédia, no entanto, poderia ter sido evitada. Isso porque o governo do Amazonas já havia sido alertado para o risco de acidentes na área em agosto de 2023.

Representantes do projeto “Mãezinha do Céu: ações preventivas e terapêuticas” encaminharam relato ao Vocativo alegando terem denunciado problemas estruturais no local do incêndio no último sábado. A organização atuava no local sem fins lucrativos apoiando mães de crianças e adolescentes com problemas de aprendizagem e comportamento social, além de pessoas que faziam uso de substâncias entorpecentes.

Os responsáveis pelo projeto afirmam ter enviado o pedido para providências em relação à situação de vulnerabilidade da comunidade em agosto de 2023, fazendo o envio de um pedido para aquisição de moradia popular para as famílias, devido ao risco anual das cheias, assim como do risco permanente de incêndios, doenças por falta de saneamento básico etc.

“O pedido foi enviado para diferentes órgãos públicos da federação e do estado. Depois disso, a comunidade recebeu a visita de servidores que tiraram fotos e conversaram com as pessoas, mas não fomos informados sobre as providências, exceto que orientássemos as pessoas para que se cadastrassem no programa do governo Amazonas Meu Lar”, explica Elvira França, coordenadora do projeto. 

“Em setembro de 2023, eu e a agente comunitária de saúde elaboramos um cadastro atualizado dos moradores, que foi enviado para o Ministério Público de Contas, para a Secretaria Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários – SEMHASF, para a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano – SEDURB e Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania – SEMASC. Em dezembro de 2023, a 57ª Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania – 57ª PRODIHC decidiu por arquivar o pedido que fizemos para apurar suposta irregularidade nas políticas públicas de inclusão das famílias da comunidade em programas habitacionais”, denuncia Elvira.

A falta de estrutura do local foi decisiva para que o incêndio destruísse totalmente as 30 casas da comunidade Bairro do Céu. “Houve demora para a ação dos bombeiros, porque as ligações não eram atendidas. A situação do local impôs dificuldades para eles atuarem, enquanto o fogo agia com grande rapidez e ia destruindo tudo”, lamenta a coordenadora.

“O documento que enviamos avisava sobre os riscos, mas faltaram providências efetivas em tempo real para evitar a tragédia anunciada. O incêndio e a perda total de bens de tantas famílias é uma prova de que tudo o que as pessoas da comunidade sofreram e estão sofrendo poderia ter sido evitado com as ações do poder público”, afirma Elvira.

Com as casas completamente devastadas, resta aos moradores a esperança de que, pelo menos agora, o poder público não os abandone. “Cada um vive, agora, seu momento de renascimento. Temos a esperança de que o poder público irá assumir as devidas responsabilidades, para compensar os danos de uma tragédia anunciada, que poderia ter sido evitada se houvesse compromisso real com a população em situação de vulnerabilidade que vivia no local”, espera a coordenadora do projeto. 

Para Welen dos Santos será difícil esquecer as cenas vividas na tarde deste sábado. “Foi muito difícil ver o sonho de uma vida inteira indo embora. Não sobrou nada da minha casa.  Muito triste passar por tudo isso”, declarou. O sentimento também foi compartilhado por Sanayquei Silva, moradora há 22 anos. “A minha casa foi a única coisa que meu pai me deixou e agora não sabemos o que fazer. Se não fosse essa ajuda da prefeitura, dos vizinhos e de várias pessoas que se solidarizaram com a nossa situação, eu não sei o que eu faria”, concluiu.

A Polícia Civil acionou a perícia do Instituto de Criminalística (IC), da Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), que irá apontar se o incêndio foi acidental ou criminoso. As investigações ficarão a cargo do 24º Distrito Integrado de Polícia (DIP). Procurada pelo Vocativo, a Secretaria de Estado da Comunicação (Semcom-AM) e o Corpo de Bombeiros não se manifestaram até o momento.


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