Amazônia

Clima: relatório aponta pontos de não retorno da Amazônia

Degradação da Amazônia pode ser irreversível por conta do aumento da temperatura global

As mudanças do clima são hoje a maior emergência da humanidade. Em relatório inédito lançado no último dia 05 de dezembro, uma equipe internacional de mais de 200 pesquisadores coordenada pela Universidade de Exeter aponta que, caso nada seja feito, o regime das chuvas e o desmatamento na Amazônia, por exemplo, poderão atingir, em breve, os chamados pontos de não retorno.

Os cientistas avaliaram 26 pontos de não retorno de diversos ecossistemas do planeta, incluindo a Amazônia. Pontos de não retorno são limiares que, se ultrapassados, desencadeiam uma transformação muitas vezes rápida e irreversível nos ecossistemas, com efeitos positivos ou negativos. Quando eles são negativos, as consequências podem ser catastróficas.

Efeito dominó

Pra entender o assunto, é importante saber que o clima do planeta está interligado. Uma mudança que aconteça no Oceano Pacífico, por exemplo, afeta diferentes ecossistemas ao redor do mundo. Se a temperatura do planeta todo aumenta, todos esses ecossistemas serão afetados. Embora seja difícil estabelecer estimativas precisas, o que se sabe é: caso a temperatura do planeta aumente entre 2 e 4 graus, haverá consequências sérias.

“É um efeito indireto, como um dominó batendo no outro. Se continuarmos como estamos, a mudança de temperatura global afetará o regime de chuvas e de temperatura regionais na Amazônia de uma forma que ficará insustentável ter floresta”, explica a pesquisadora brasileira Marina Hirota, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que contribuiu para a produção do relatório com apontamentos em relação à Amazônia

Chuvas

O Amazonas conviveu em 2023 com a maior estiagem já registrada em sua história, que também teve como consequência recorde de queimadas e fumaça encobrindo as principais cidades do estado, consequência direta das mudanças climáticas. Mas isso não é o pior cenário possível.

Segundo esse levantamento, há pontos de não retorno críticos associados a chuva na Amazônia que foram identificados com base modelos e em dados de sensoriamento remoto. “A maior parte das florestas da Amazônia estão embebidas num regime de chuva que inclui chuva média anual acima de 1000 milímetros por ano. Se a gente tiver uma redução da chuva de 1000 para até 1000 milímetros, é muito improvável que uma floresta se sustente abaixo desse valor”, alerta Marina Hirota.

Estação seca

Outro potencial ponto de não retorno é a intensidade da estação seca  na Amazônia. Embora seja difícil estabelecer números precisos, se as mudanças climáticas se intensificarem e estiagens severas como a de 2023 ficarem ainda piores, o déficit de água pode ficar acima de 300 a 400 milímetros. Se isso acontecer, nesse caso também dificilmente a floresta se sustentaria em pé.

Desmatamento

Também se identificou um ponto de não retorno associado ao desmatamento. Embora seja um cálculo complexo de fazer (a floresta se regenera e há ainda a possibilidades de reflorestamento), acredita-se que existe um limiar de 20 a 25% de desmatamento na Amazônia acumulado. “Acima disso, gente teria um potencial por um efeito em cascata de perda de umidade da floresta, só sobrando o Noroeste”, explica Hirota.

Para a Amazônia, o ponto de não retorno ao invés de uma mudança gradual na floresta, é caracterizado por uma mudança mais intensa e frequente. No caso, aconteceria um loop que reforça a perturbação inicial, o que vai causar, eventualmente, mortalidade das árvores.

“Diminui a chuva, diminui a quantidade de árvores, diminui a quantidade de árvores, diminui a transpiração, ou seja, umidade para a atmosfera, para a formação de nuvens e chove menos. É um loop de fechamento”, alerta a pesquisadora.

Nesse caso, as outras regiões da Amazônia também seriam afetadas pelo efeito dominó que foi falado mais acima. “Essa perda de umidade a leste, por exemplo, onde há muito mais desmatamento, influencia leste, sudeste e nordeste, regiões que tem menos desmatamento. Mesmo que essas florestas não estejam sendo desmatadas ou morrendo de alguma forma, elas também sentem os efeitos que a gente chama corrente abaixo”, avalia Marina.


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