Contexto

Quais são os efeitos da fumaça das queimadas no seu organismo?

A população de Manaus tem convivido desde meados de setembro com a fumaça proveniente das queimadas da floresta amazônica tanto na região metropolitana quanto no interior do Amazonas. Como era esperado, a saúde tanto de adultos quanto de crianças é bastante afetada pelo problema.

Segundo a Associação Amazonenese de Pneumologia e Cirurgia Torácica a fumaça dos incêndios florestais produzida a partir da combustão de biomassa natural contém milhares de compostos individuais, incluindo material particulado, dióxido de carbono, vapor de água, monóxido de carbono, hidrocarbonetos, outros produtos químicos orgânicos, óxidos de nitrogênio e minerais.

O tamanho das partículas de poluentes é variável, mas cerca de 90% da massa de partículas emitidas por incêndios florestais consiste em partículas finas, com tamanho menor que 2,5 µm de diâmetro, denominadas PM2,5 e que por seu pequeno tamanho chega mais facilmente em pequenas vias aéreas ao serem inaladas.

Os efeitos negativos sobre a saúde humana não têm sido associados apenas com problemas respiratórios, mas também com problemas nos olhos, na pele e até mesmo com doenças cardiovasculares e neurológicas, especialmente em grupos etários mais vulneráveis como crianças e idosos. A exposição repetida e persistente pode complicar ou atuar como gatilho em doenças pré-existentes como asma, rinite, bronquite, pneumonia, doenças cardiovasculares e neurológicas, especialmente em grupos etários mais vulneráveis como crianças e idosos.

O material particulado é o mais nocivo à saúde e pode atingir diferentes órgãos e tecidos do corpo humano. E não apenas um, mas um combo de poluentes. “A fumaça das queimadas vem acompanhada de outros poluentes ambientais nocivos, como os gerados por veículos terrestres e aéreos, gás de cozinha, atividade comercial, agrícola e industrial, por exemplo”, alerta o epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz da Amazônia.

Poluição atmosférica mata

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em torno de 6,5 milhões de pessoas morrem anualmente, devido a poluição do ar. Inclusive, há uma crescente discussão acerca da necessidade de incluir a poluição do ar como causa contribuinte de morte nas declarações de óbito, pois a sua invisibilidade nas estatísticas oficiais corrobora com a negação dos efeitos catastróficos da atual crise climática no Brasil e no mundo.

A diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), Tatyana Amorim, afirma que há orientações práticas para diminuir os impactos da fumaça, evitando riscos de infecções respiratórias agudas, especialmente em crianças e idosos. “A Fundação recomenda que a população se proteja, principalmente nos dias em que o ar está mais afetado pela fumaça, evitando estar em ambientes externos, visando prevenir infecções respiratórias. A recomendação é principalmente para crianças, idosos, gestantes, puérperas e pacientes crônicos que fazem parte dos grupos mais vulneráveis”, ressalta a diretora.

A orientação para evitar exposição também é indicada para quem tem o hábito de realizar atividades físicas em áreas externas. Além disso, outras recomendações incluem usar máscara de proteção respiratória quando houver circulação em ambientes com fumaça; manter-se hidratado com a ingestão de líquidos e proteger a pele dos danos causados pelos raios solares com a aplicação de protetor solar.

Detalhe importante: tal como na pandemia de Covid-19, para que as pessoas possam, de fato, se beneficiar da proteção contra a fumaça ou até mesmo de toda sorte de vírus de transmissão respiratória, como Sars-Cov-2 ou Influenza, o ideal é que sejam usados respiradores do tipo PFF2 ou N95, pois só esses equipamentos protegem ou filtram efetivamente micropartículas.

Consequências coletivas

Em termos de saúde pública, a exposição de todos os habitantes de Manaus à fumaça pode gerar uma corrida da população às farmácias, em busca de medicamentos variados, especialmente àqueles voltadas para problemas respiratórios. “Precisamos lembrar da Lei da oferta e demanda, a qual pode gerar não apenas o encarecimento de medicamentos e insumos, como sua escassez, prejudicando sempre os mais vulneráveis, seja pela falta ou limitado acesso”, explica Jesem Orellana.

Outro problema que pode surgir é busca por atendimento de saúde, o que pode gerar sobrecarga na rede de consultórios e ambulatórios, agravando a crítica situação da rede de atenção à saúde no estado.

“Embora os efeitos diretos mais comuns da exposição a fumaça, em geral, não causem problemas de saúde graves, ela pode implicar não apenas em gastos evitáveis, como também na perda de oportunidade de pacientes com outras demandas de terem acesso a atendimento médico e de saúde, podendo gerar agravamento de doenças pré-existentes ou mesmo morte”, afirma o pesquisador.

O que fazer?

A Associação Amazonenese de Pneumologia e Cirurgia Torácica recomenda limitar a exposição, mantendo-se em áreas fechadas a maior parte possível do tempo. Em casa é importante manter portas e janelas fechadas para evitar a entrada de fumaça. Essa medida simples pode reduzir a entrada de fumaça na residência em até um terço.

Os aparelhos de ar condicionado geralmente recirculam o ar que já se encontra dentro da residência não aumentando o risco de entrada de mais fumaça para dentro do ambiente, tendo ainda o benefício adicional de amenizar também os impactos do calor. Uma advertência importante sobre o aconselhamento de ficar em casa de portas fechadas é a limitação dessa prática para famílias de baixa renda que não possuem ar condicionado, correndo assim o risco de sofrer estresse térmico.

Estresse térmico

O calor extremo também representa um problema substancial para a saúde, especialmente para grupos de risco. O risco do estresse térmico pode as vezes se sobrepor ao risco da exposição a fumaça, podendo levar a exaustão pelo calor, insolação e morte. Em algumas condições de alta temperatura, as janelas e portas precisarão ser abertas para permitir o resfriamento, mesmo que entre fumaça.

Máscaras

É necessário evitar ficar tempo prolongado ao ar livre, mas havendo a necessidade de sair para áreas abertas é recomendável proteger-se com uso de máscaras. O uso de máscaras tipo N95/PFF2 ou P100 que se ajustem adequadamente ao rosto pode ajudar a reduzir a exposição individual a fumaça e deve ser utilizada principalmente por quem vai permanecer ao ar livre por longos períodos e para pessoas com fatores de risco.

Aparelhos (se possível)

Purificadores de ar ambiente com capacidade adequada para a área de uso do equipamento e com filtro de ar particulado de alta eficiência (HEPA) também podem reduzir as concentrações de partículas. Os umidificadores de ar podem atuar como medida de alívio dos sintomas de irritação em olhos, nariz e garganta.

Ao sair de carro, a orientação é manter janelas e aberturas de ventilação fechadas e deixar o ar condicionado no modo “recirculação”. Ferramentas que monitoram o índice de qualidade do ar (IQA) podem ser utilizadas pela população como auxílio na tomada de decisões e mensuração de risco individual para se expor a áreas abertas. Considera-se que valores de IQA acima de 200 oferecem risco substancial à saúde para a população como um todo.


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