Amazônia

Segunda onda de Covid-19? E quando Manaus saiu da primeira?

Conforme o Vocativo.com tem mostrado nas últimas semanas, o Amazonas começa a demonstrar sinais preocupantes de ocupação de leitos, tanto clínicos quanto de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), com pacientes com Covid-19. Muitos se apressam e classificam o momento como uma “segunda onda” de casos. Mas em que momento a “primeira onda” acabou?

Antes de mais nada, é preciso explicar o que seria uma onda. Uma onda, em sentido epidemiológico, é uma representação em gráfico, onde os casos são contados ao longo do tempo. Dessa forma:

A ideia é usar esses gráficos para guiar as políticas públicas dos governos para que possam aumentar ou relaxar as quarentenas, evitando o colapso do sistema de saúde e funerário. Governos que adotam boas políticas conseguem reduzir o número de casos diários. Note que a Espanha, por exemplo, conseguiu segurar o número de casos diários na metade de março e no final de abril tinha conseguido “baixar a curva”. Agora, vamos observar o exemplo do Amazonas, entre o primeiro caso, dia 13 de março e dia 07 de junho, quando o número de internações começou a cair:

Percebem que não há uma onda, mas algo completamente aleatório, muito mais ligado a capacidade de processar testes do que necessariamente acompanhar o que está acontecendo? Ora, o Amazonas, mais especificamente Manaus, sempre tem média diária de casos de mais de 600 e de internados em UTI não menor que 70 por dia, essa seria uma segunda onda ou um agravamento do que já era muito sério? Em que momento termos pelo menos 70 pessoas em estado grave (chegando a 215 no pior dia) desde maio pode ser considerado o fim da “primeira onda”?

Curiosamente, nesta mesma semana, um estudo em que envolveu pesquisadores brasileiros e a Universidade de Oxford sugeriu entre 44% e 66% da população de Manaus já teria tido contato com o vírus em algum momento. Embora cogite imunidade coletiva, as autoridades de saúde já advertiram que ela só pode ser atingida com vacinação em massa. Por outro lado, é fundamental questionar o poder público sobre a gravidade dessa informação. Se quase metade da população já foi contaminada, significa que o poder público falhou ao protegê-la e ainda há a outra metade para o vírus atingir.

Discutir se há ou não uma segunda onda é uma tola perda de tempo. Primeiro porque muitos usam esse termo por puro modismo, sem nem compreender o que ele significa. E os casos nunca chegaram a cair a ponto de afirmar que a primeira passou. A situação do Amazonas é e sempre foi grave o suficiente para que medidas urgentes fossem tomadas, mesmo quando as internações e óbitos em excesso caíram.

O que precisa vir para o debate é: onde estão os testes? Cadê a fiscalização e as multas pelo uso de máscaras? Cadê a fiscalização de portos e aeroportos, para conter a circulação do vírus? Como fazer para retormar atividades econômicas, que são absolutamente necessárias, como bares e restaurantes de maneira segura? Ao ar livre seria melhor? Não seria o caso de cancelar o ano letivo?

O que fizemos esse tempo todo foi apostar. Quando as internações e mortes ficaram em nível que não geraram mais imagens fortes como enterros em covas coletivas, criou-se a falsa impressão de que o pior tinha passado. E não passou. Não há número aceitável de mortes, há ação ou omissão do poder público. Esperar o pior ficar menos pior e torcer para não piorar mais não é política pública. É omissão criminosa.

Foto: Secretaria de Estado da Comunicação (Secom)

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