Notícias

Dívidas da Petrobrás não serão resolvidas com venda de ativos, aponta instituto

Análise mostra que a redução das dívidas somente se dará com mais investimentos, não com a venda de ativos


Rio de Janeiro, 29 de fevereiro de 2020 – Na última semana, a Petrobrás divulgou que registrou lucro líquido de R$ 40,1 bilhões em 2019, o maior de sua história. Tal resultado foi obtido sobretudo com a entrada em caixa de recursos oriundos da venda de importantes ativos, como a TAG e a BR Distribuidora. Entretanto, o argumento da empresa de que a venda de ativos é necessária para reduzir seu endividamento desconsidera os desafios de curto prazo para exploração do pré-sal e as características da indústria de petróleo no longo prazo, marcadas pela alta volatilidade de preço e pela sinergia entre as diferentes atividades setoriais. Seja na comparação com outras petroleiras do mundo que descobriram grandes reservas de óleo e gás nos últimos anos, seja em relação ao ganho de reservas de óleo e gás da Petrobrás a partir do pré-sal, descoberto em 2006.

É o que aponta a análise “O endividamento da Petrobrás e as empresas internacionais”, desenvolvida pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP). De acordo com o estudo, petrolíferas que fizeram grandes descobertas, entre 2009 e 2017, apresentaram uma trajetória de expansão do seu endividamento.

“A diretoria da Petrobrás argumenta que um dos principais fatores para o atual processo de desmonte da companhia é seu alto nível de endividamento. De fato, a Petrobrás detém a maior dívida entre as companhias de petróleo. No entanto, o endividamento não foi algo exclusivo da empresa. Outras petrolíferas que fizeram grandes descobertas nos últimos anos, como a ExxonMobil e a BP, também se endividaram e terão de se endividar ainda mais para executar seus projetos exploratórios”, explica Rodrigo Leão, pesquisador do INEEP.

O paper ainda ressalta que o pré-sal brasileiro foi a maior descoberta global de petróleo e gás natural das duas últimas décadas. Desde 2008, considerando apenas seis áreas – Franco, Libra, Iara, Sapinhoá, Carcará e Júpiter, todas na Bacia de Santos –, o volume estimado in place é de 74,7 bilhões de barris de óleo equivalente (BOE), que soma os volumes de óleo e gás. Já a segunda maior descoberta de óleo e gás no mundo, as áreas de Barda Rash e Shakan, no Iraque, tem volumes estimados em 27,8 bilhões de BOE in place.

O volume do pré-sal exigiu que a Petrobrás levantasse recursos para explorar seu potencial. Isso se confirma pelo fato de a companhia brasileira ter sido a que mais investiu entre 2009 e 2013, em comparação com BP, ExxonMobil, Equinor e Total. E em 2013, a empresa foi a que mais perfurou poços de exploração e produção na comparação com as outras – 558 no total.

“É importante lembrar que a dívida de hoje gerará receita e caixa para a empresa no longo prazo, por conta da produção do pré-sal, e este, por sua vez, poderá reduzir o endividamento original da Petrobrás. O petróleo é uma atividade de altíssimo risco, que exige decisões de curto prazo, cujas ‘recompensas’ se darão num horizonte temporal muito mais longo”, explica Leão.


Descubra mais sobre Vocativo

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.