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O que esperar da estiagem de 2024 na Amazônia

Embora ainda seja cedo para prever o tipo de estiagem que teremos em 2024, a fraca cheia no Amazonas e o superaquecimento do Oceano Atlântico Tropical Norte são sinais preocupantes. Enquanto isso, pesquisador defende que poder público adote a chamada resiliência climática

A estiagem de 2024 no Amazonas poderá ser tão ou mais severa quanto a do ano passado. Embora ainda não seja possível estabelecer com maior precisão uma perspectiva clara, alertas de órgãos do governo e de um pesquisador apontam que é melhor estar preparado para o pior.

O Amazonas, estado essencialmente fluvial, enfrentou a maior seca registrada em mais de 120 anos de história, em 2023, e os prognósticos para 2024 indicam que a severidade poderá se repetir. E o primeiro possível indicativo disso é que para o Serviço Geológico Brasileiro (SGB) há uma baixa probabilidade da cheia de 2024 ser de grande magnitude. Já o pico da vazante deve começar em outubro, no Rio Solimões, Negro e Amazonas.

Desastres compostos, riscos compostos

Mas assim como a estiagem recorde de 2023, a de 2024 também vai depender de uma série de fatores, em especial o aquecimento das águas do Oceano Atlântico. Hoje se sabe, por exemplo, que apesar de ter sua relevância, o El Niño não foi tão decisivo quanto se imaginava.

“Muito se falou do fenômeno de El Niño, que é um fenômeno que tradicionalmente gera secas aqui na região. Mas o de 2024 foi moderado, teve seu papel, mas outro processo muito importante foi o aquecimento da porção norte do Oceano Atlântico. Esse oceano foi muito aquecido e está diretamente relacionado com o processo de mudanças climáticas e aquecimento global”, explica Ayan Fleischmann, engenheiro ambiental e pesquisador do Instituto Mamirauá.

Mas não foi só isso. Um dado curioso é que apesar da estiagem ter sido em toda a região, os motivos dela nem sempre foram os mesmos. “Por exemplo, no Alto e no Médio Solimões, a seca de 2010 em alguns pontos foi mais intensa em termos de nível do Rio do que em 2023. No entanto, de 2010 para 2023 a gente teve esses 13 um aquecimento muito grande do planeta. Esse aquecimento do ar trouxe ondas de calor em setembro de 2023 muito graves. Então a gente tem o que a gente chama de desastres compostos, riscos compostos”, afirma Ayan.

“Os oceanos, de modo geral, estão muito quentes. Isso é muito preocupante do ponto de vista do clima global. Então apesar do El Nino estar diminuindo, o Oceano Atlântico Tropical Norte pode compensar isso e gerar uma estiagem severa novamente”

Ayan Fleischmann, pesquisador do Instituto Mamirauá

Oceanos muito quentes

Se ainda é cedo para cravar se esta vai ser uma seca pior do que a de 2023, há sinais preocupantes. Atualmente, o nível dos rios em toda a Amazônia está abaixo da média para o período. Outro fator é o próprio l Nino, que está perdendo força e pode até virar uma La Niña no segundo semestre.

“Isso vai no sentido contrário da gente ter uma seca severa. Por outro lado, o Oceano Atlântico Tropical Norte segue muito aquecido e aquecido a níveis nunca vistos. Os oceanos, de modo geral, estão muito quentes. Isso é muito preocupante do ponto de vista do clima global. Então apesar do El Nino estar diminuindo, o Oceano Atlântico Tropical Norte pode compensar isso e gerar uma estiagem severa novamente”, alerta Fleischmann.

Resiliência climática

Mesmo com algumas incertezas, os sinais são claros: é melhor estar preparado. Segundo Ayan Fleischmann, o poder público precisa incorporar um novo conceito chamado resiliência climática. Segundo a Política Nacional de Mudanças Climáticas, resiliência climática é: um conjunto de iniciativas e estratégias que permitem a adaptação, nos sistemas naturais ou criados pelos homens, a um novo ambiente, em resposta à mudança do clima atual ou esperada. O ponto de partida, segundo ele, deve ser a água.

“Precisamos urgentemente pensar formas alternativas de acesso à água. A gente sabe que esse foi um dos grandes problemas durante a estiagem, especialmente a captação de água da chuva, que foi insuficiente. As comunidades, muitas vezes os poços de água subterrânea secaram. Tiveram que pegar água direto do rio e não conseguiam tratar da forma adequada. A água do rio com cloro, com sulfato de alumínio, para decantar aquele sedimento todo tem formas de fazer isso. A gente precisa investir as comunidades, o poder público, defesa civil, investir na resiliência climática”, sugere o pesquisador.

Uma avanço importante pode ser aumentar a capacidade de captação de água da chuva. Isso porque mesmo que mesmo durante uma estiagem, chove na Amazônia. Em Tefé, por exemplo, choveu cerca de 80 milímetros em 80 milímetros em setembro e 110 milímetros em outubro. “Já é algum volume que poderia ser captado. Claro que talvez não seja suficiente para o abastecimento da comunidade, das famílias, mas já é um volume de água que poderia ser captado. Poços d’Água mais profundo tem formas de melhorar o acesso à água durante uma estiagem”, sugere Ayan. Em relação a comida, é fundamental a estocagem de alimentos.


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